O Tempo e a Vida: reflexões
filosóficas sobre a importância do tempo nas nossas vidas
Resumo-Introdutório
Vivemos numa época em que a vida apresenta-se demasiado
dinâmica e agitada. Esta agitação e dinâmica da vida veio encurtar as horas, os
dias, os anos, os séculos, numa palavra, o tempo. De facto, parece-nos que as
24h por dia já não são suficientes para suprir as nossas actividades básicas
quotidianas: matabichar, ir ao serviço, ler jornal, telefonar, acompanhar o
jornal na tv, consultar o email ou qualquer rede social em que esteja
conectado, fazer compras, ir ao salão ou barbearia, limpar o carro, estudar,
conversar com família e amigos, ir à igreja, passear, lazer, descansar, amar,
etc. As necessidades básicas do homem aumentaram de tal maneira que se torna
difícil realizá-las plenamente. Diante desta dinâmica, muitas vezes nos
queixamos aos nossos amigos, familiares, colegas e superiores hierárquicos de
falta de tempo. Mas eu acredito que, mais do que a falta de tempo, o que nos
falta é a consciência da importância do tempo para o sucesso nas nossas vidas.
Pois, se tivéssemos a consciência da importância de tempo pautaríamos pelo seu
bom uso e gestão. Este artigo, é resultado de reflexão critica e tem o
objectivo de conscientizar o leitor no bom uso do tempo na sua vida.
Palavras-chave: tempo, vida, importância do
tempo.
O que é o tempo?
Do
latim tempus, significa
etimologicamente, a duração que acompanha o crescer dos seres físicos. Mas o
tempo pode ser Chronos ou Kairos. Chronos é o tempo considerado na sua totalidade, este envolve a
mudança ou movimento nos fenómenos da natureza e a consciência dessa mudança
por parte do homem. Chronos tornou-se
a instância dominante, significando a possibilidade, sempre efectiva, de
alteridade e alteração, na precariedade de cada instante. No Chronos há um abismo entre criação e
liberdade na precaridade de cada instante onde nada está definitivamente
adquirido ou é antecipável em resultado do imprevisto do acaso. No homem, a
relação de sucessão do movimento pode ser decifrada como passado, presente e o
futuro. O tempo como chronos só é
possível se se admitir que o ser está em constante devir e esse devir tem
lapsos de duração, o que cria a sucessividade. Kairos éf o tempo oportuno, ocasião favorável à boa acção, ou o
momento da decisão. É no kairos que
se encontra a esfera da liberdade, liberdade esta que dá sentido à
temporalidade humana enquanto ser temporal. O kairos é que dá sentido à vida do homem e, portanto, à sua história.
O kairos é o tempo humano (MAFALDA,
s/d.: 130-134).
Na história
da filosofia ocidental o tempo vestiu-se de diversas roupagens. Os gregos
concebiam um tempo metafisico, cíclico ou circular em que os factos humanos se
repetem numa luta de contrários. Segundo a interpretação de Mafalda, Platão
acredita que o tempo constitui uma medida intrínseca ao movimento, que inflecte
a si mesmo em escansão regular e repetitiva, adversa a toda a alteridade ou
inovação. (PLATÃO apud MAFALDA, s/d.: 135). Já na Idade Média, o judaísmo
cristão acredita que o tempo foi criado por Deus e foi oferecido ao homem como
um dom, e portanto o tempo é sagrado. Aqui o tempo ganha uma direcção linear e
não mais circular, constituído de momentos únicos, irreversíveis, pelos quais
Deus intervém na história para interpelar a liberdade humana. No tempo judeo-cristão
cada momento é um momento de salvação, como explica Mafalda, “na verdade o
tempo foi dado ao homem para que ascenda da sua insuficiência como criatura a
sua plenitude como pessoa”(Ibidem: 137).
Na
época renascentista acredita-se que a natureza foi corrompida devido ao pecado
original, desta forma o homem, segundo Lutero e Calvino, tornou-se incapaz de
uma verdadeira existência e duração porque afastado de Deus (Ibidem: 142).
Na
idade moderna, em resultado da emancipação do homem a Deus, o mecanismo
perfeito do universo dispensa a assistência providencial de Deus, que é
relegado para o início da criação e, pela primeira vez, o homem sente-se
sujeito da sua vida, do seu destino e da sua história. Descartes concebe o
tempo centrado na ligação imediata do cogito
à eternidade, que momento a momento o recria, conferindo uma existência actual,
mas sem continuidade; trata-se de um tempo com direcção linear, geométrico, sem
duração passada ou futura, à imagem da nova física matemática, que substituiu
os conceitos de forma substancial, acto e finalidade pelos de átomos, inércia e
choque (Ibidem: 143).
O
debate ocidental sobre o tempo, não pára com Descartes, pois continua até os
filósofos contemporâneos. Aqui importa-nos perceber que a concepção ocidental
do tempo veste-se de túnica metafisica, isto é, é uma concepção abstracta e
universal do tempo. Agora, o que será o tempo na visão africana?
A Concepção Africana do Tempo
Mbiti havia afirmado a
inexistência do conceito de futuro distante ou infinito no pensamento africano,
fundamentando as suas ideias através de análises da África Oriental. As
estruturas dessas línguas, segundo Mbiti, não generalizam um conceito de tempo de futuro infinito. John Mbiti
conclui, então, que a língua é um guia seguro da concepção geral africana de
tempo (MBITI, 1990:22-3).
Mas
para Gyekye na filosofia akan, o tempo é visto como uma realidade concreta.
Todavia isto não implica que a noção abstracta de tempo não existe nestes
povos. Leiamos os seguintes
provérbios: “Time is like a bird; if you
do not catch it and it flies, you do not see it again[1]” (GYEKYE, 1995:170); “Time changes[2]” (Ibid). Ambos os provérbios citados
exprimem uma noção abstracta de tempo. Portanto, para Gyekye o facto de os
pensadores akan geralmente porem os seus pensamentos em termos concretos não
nos deve levar a concluir que eles não têm conceitos abstractos. Pois que, os
pensadores akans consideram o tempo como uma realidade concreta, associada com
a mudança e crescimento. O tempo é pertencente ao mundo fenomenal por essência,
embora não implique a inexistência de tempo futuro. Vejamos os seguintes provérbios: “This is a sad and memorable day[3];”
“Time has its boundary; we do not traverse it[4]”. Estes são alguns dos
provérbios através dos quais Gyekye procura provar a existência do conceito de
futuro infinito (Ibid).
Disto
podemos concluir, que enquanto a concepção ocidental do tempo é metafisica e
abstracta, a concepção africana do tempo é física (de physis = natureza) e concreta. Para o africano o tempo está ligado
às vivências, ao quotidiano. E, aqui, considerarei o tempo na perspectiva
africana.
O que é a vida?
Existem
várias teorias que procuram responder à questão acima colocada, como é o caso
da teoria vitalista e da teoria mecanicista, que se debatem em volta da mesma.
Aqui, não iremos desenvolver um estudo aprofundado sobre esta matéria por razões
da delimitação do nosso tema.
Embora
haja várias maneiras de definir a vida, aqui apresento apenas duas que acho as
mais importantes para este desenvolvimento: a vida biológica e a vida
existencial (vida humana).
A vida
no sentido biológico do termo seria o dom que certos seres da natureza tem de
nascer, crescer, reproduzir-se e morrer. Aqui o conceito vida é mais
abrangente, pois abarca todos os seres que tem este dom: plantas, animais e o
próprio homem.
A vida
no sentido de existência, é a vida propriamente humana, como afirma Batista
Mondin “O homem é ser vivente.
Antes, o homem é ser vivente por antonomásia” (MONDIN, ?????????) De facto a
vida do homem se distingue de longe de outros seres viventes pela riqueza de
possibilidades de experiências que carrega. Privar o homem de vida seria negar
a sua própria essência, o que significa que a vida faz parte da sua essência. A
vida do homem distingue-se também da dos outros seres por ser uma vida
consciente de si mesma. Na obra O Homem,
quem é ele? Explica-nos Mondin:
A vida humana se distingue das dos
animais e dos outros seres viventes pelos níveis espirituais que atinge e pelas
dimensões sociais que alcança: por isso se pode falar em vida espiritual, vida
intelectual, vida social, vida politica, etc. distingue-se além disso, pela
atitude nova que o homem possui nos confrontos da vida. O homem propõe o
problema da vida, aprecia a beleza da vida, deseja melhorar a sua forma de
vida, tende a transcender os limites de espaço e do tempo nos quais a vida esta
confinada. Ele pode elaborar o seu próprio conceito de vida perfeita e é por
essa vida que ele sente fascínio ardente. O homem é dono da própria vida, pode
em larga escala controlá-la, dirigi-la, aperfeiçoá-la (MONDIN, ????: )
Desta
citação, queremos fazer perceber a nossa maneira de conceber a vida neste
artigo, que não se distingue da vida humana explicada por Mondin no trecho
acima citado.
O Tempo e a Vida
As características cairológicas
caracterizam a vida na sua facticidade precisamente porque determinam a relação
que ela tem com o tempo e que é uma relação de realização (DASTUR, 1990: 32).
Se os
empreendedores, para o sucesso nos seus negócios, são guiados pela máxima “Time
is money, money is time”. Eu diria que para o nosso sucesso na vida “times is
life, life is time”. O tempo esta estritamente correlacionado à vida e a vida
ao tempo. O tempo é vida e a vida é tempo. O tempo é vida porque ele só existe
aos seres que não apenas vivem, mas que são animados e tem consciência de
tempo. Neste caso, o tempo é subjectivo enquanto é sentido e calculado no espírito
humano, como afirmou Santo Agostinho “Em
ti ó meu espirito, meco os tempos”. Sem a vida (humana) não existe o tempo,
seja objectivo[5]
como subjectivo[6],
porque só o homem tem a consciência de tempo objectivo, só ele pode medir o
tempo no seu espirito, gravando o passado na memória, tomando a consciência do
presente e perspectivando o futuro. A faculdade humana suprema do tempo é a memória.
Com a memória e a razão o homem consegue perceber a sucessão dos factos na
natureza e torna-se sujeito do conhecimento desses factos.
Para
Heidegger o ser humano é tempo, o homem, que ele chama de Dasein (presença, ou o ser-ai
repleto de possibilidades), tem uma essência temporal dado que é a partir dele
que se pode decifrar o que é o tempo. No entanto, ele não existe no tempo da
mesma maneira como os outros seres da natureza, ele é no fundo temporal.
O que o relógio indica não é a duração,
a saber, a quantidade de tempo que flui, mas sim unicamente o “agora” tal como
é fixado de cada vez em relação à acção presente, passada ou futura. Portanto,
só posso ver as horas no meu relógio referindo-me a esse “agora” que sou e que
remete para essa temporalidade “minha” que preexiste a todos instrumentos
destinados a medi-la (HEIDEGGER apud DASTUR, 1990: 30).
Heidegger
sustenta que só podemos aceder à intratemporalidade das coisas do mundo, apenas
se o Dasein (homem) compreende-se a
si mesmo como um ser mortal, isto é, quando antecipa o seu próprio fim, o seu
próprio ser volvido, como o que constitui a possibilidade extrema do ser, e não
como um simples acidente que lhe sobrevirá do exterior. A consciência de morte
implica o tempo intervfalo
Heidegger
advoga a individuação do tempo, o tempo não pode ser objectivo mas sim
subjectivo. O cálculo objectivo do tempo é um meio para a apropriação do tempo
verdadeiramente meu, isto é, da minha temporalidade.
Desta
ideia heideggeriana, compreendemos que a importância do tempo na vida humana é
suprema. Na pessoa individual, na família, no trabalho, na sociedade, a forma
como usamos o tempo determina muitas vezes o nosso carácter e prestígio. O
sucesso ou fracasso na vida, o nosso comportamento e valor dependem da maneira
como usamos o tempo. Entretanto, o respeito pelo tempo impera-se necessário
para organizarmos as nossas vidas. O tempo merece respeito, porque respeitar o
tempo é respeitar a vida.
Entre
as pessoas comuns existem as que preferem viver no tempo e as que preferem que
o tempo lhes viva. Viver no tempo significa viver de acordo com as circunstâncias
existenciais que decorrem num determinado momento das nossas vidas num
determinado lugar. E ser vido pelo tempo equivale à deixar-se empurrar pelo
tempo, isto é, pelas circunstâncias existenciais individuais, sociais e
politicas num determinado momento das nossas vidas num determinado lugar. Mas,
sábios são aqueles que vivem o tempo no tempo, quer dizer, sabem aproveitar os
momentos que as circunstâncias da vida lhes oferecem, mesmo quando difíceis,
pois há sempre algo de interessante ou que se possa aproveitar em todos os
momentos das nossas vidas. Os sábios têm a consciência de que as circunstâncias
da vida revelam como ela deve ser vivida e sabem que estas terão fim, portanto,
sabem projectar viver outro tempo no tempo próprio. Por exemplo, jovens que
vivem a juventude (um período de tempo vital) e pensam que não acaba e, no
entanto, não preparam entrar na fase de adulto (outro período de tempo vital),
não são sábios, porque não sabem usar o tempo e prendem-se às circunstâncias
temporais da juventude sem preparar o dia de amanhã, e, portanto, deixam-se
levar pelo tempo e este decide as suas vidas, tornando-lhes jovens sem
projectos, e sem história, dado que a história não faz os homens mas os homens
é que a fazem através do seus projectos. Jovens sábios, seriam aqueles que
conscientes da importância do tempo, aproveitariam a sua juventude desfrutando
de tudo de bom que nela existe evitando tudo de mau que ela incita e,
sobretudo, preparam-se para desfrutar do outro período do tempo vital (adulto)
e assim em diante. Estes últimos terão sabido viver o tempo e com o tempo e
terão sabido morrer.
De
seguida procuro mostrar o quanto o tempo é tao importante para organizarmos a
nossa vida pessoal, social, profissional e, sobretudo, para lhe dar um sentido.
O tempo na vida pessoal
Ora
irei aqui distinguir quatro (4) maneiras de estar a gerir bem ou mal o tempo,
que são: 1) fazer algo a tempo: significa fazer um pouco antes que esse algo
suceda mas no momento certo, por exemplo, chegar na escola 15 ou dez minutos
antes da hora do toque para entrada na sala de aula; fazer algo no tempo:
significa fazer algo exactamente no momento em que esta a começar a realizar-se,
por exemplo, o estudante que chega na escola no momento em que o professor já
entrou na sala de aula, porém esta ainda não começou ainda a ser dada; 3) fazer
algo depois do tempo: significa que se atrasou em fazer esse algo, mas ainda há
possibilidade ou chances de fazer, não é tarde demais, por exemplo, o estudante
que entra na sala de aulas dentro dos primeiros 15min, depois de começar; e 4)
fazer algo ultrapassado: significa que o que é feito não apenas esta atrasado,
como também, não vale mais, não é mais preciso ou não se pode mais tolerar, por
exemplo, o estudante que chega na sala de aulas quinze minutos depois, na norma
não tem direito a entrar na sala de aulas, pois ultrapassou o tempo normal para
estar actualizado ao que estará sendo discutido na sala de aulas.
Outro
exemplo seria: Quando nascemos, logo nos primeiros dias, no estado
sensório-motor, adquirimos uma consciência experimental e sensitiva do tempo. O
nosso estômago reclama quando não somos aleitados a tempo[7]
e começamos a manifestar fome e desconforto; mãe bem atenta não precisa ver que
nos manifestamos para que nos dê de mamar, conhece o nosso estômago e portanto,
o tempo para mamarmos e dá-nos o leite a tempo. Por outro lado, mãe um pouco
atenta vê o relógio ou que acordamos e nos sentimos incomodados, percebe-se da
fome e dá-nos de mamar no tempo, isto é, no preciso momento em que começamos a
manifestar a fome. Se não fosse atenta poderíamos ter que chorar, gritar
primeiro para que descobrisse que sentimos fome, e dar-nos-ia depois do tempo
(normal para mamarmos antes de chorarmos); uma mãe miserável ou estúpida,
ignorante e cruel, poderia deixar-nos dias esfomeados até ao ponto em que
dar-nos de comer estaria ultrapassado e, portanto, nada nos restaria senão a
morte.
Contudo,
como diz o rapper português Valete, nas estrofes da sua música “Ainda há tempo”
canta:
Ainda há tempo para
seres tu e deixares essa rotina
Sentires o futuro que
ilumina, fazeres a tua sina
[…]
Ainda há tempo de
dizeres que ainda há tempo
De acolheres o momento e partires com o vento
Para onde não há tormentos, não há dor nem lamentos
Apenas o intento de voltar a viver
De acolheres o momento e partires com o vento
Para onde não há tormentos, não há dor nem lamentos
Apenas o intento de voltar a viver
Ainda há tempo para
tu seres tudo aquilo que sonhaste
Recuperar o que abandonaste e o que fantasiaste
Ser o homem que abdicaste quando veio a descrença
E de ser a tal diferença que tu receaste
Recuperar o que abandonaste e o que fantasiaste
Ser o homem que abdicaste quando veio a descrença
E de ser a tal diferença que tu receaste
[…]
Embora
possamos estar um pouco ultrapassados, não significa que não haja mais tempo
para voltar a sonhar, estudar, amar, desejar ou viver. Aliás, para evitarmos
com que venhamos a pronunciar a expressão “ainda há tempo” nas nossas vidas, é necessário
sabermos controlar e respeitar o tempo, nunca devemos nos deixar levar pelo
tempo. Isto significa que devemos desfrutar da nossa infância enquanto infantis
conscientes de que o tempo da infância acaba. Por desfrutar a infância
refiro-me a brincar, jogar, mas também estudar e prepararmos a nossa
adolescência e juventude. Da mesma maneira a juventude deve ser desfrutada
tendo consciência de que ela acaba e de que há um tempo nas nossas vidas que se
aproxima e exige liberdade e, sobretudo, muita responsabilidade (a fase
adulta). Desfrutar a juventude significa, a meu ver, brincar como forma de
desenvolver as nossas potencialidades naturais, os nossos dons e talentos,
significa fazer algo que gostemos e que nos proporcione muito prazer mas não
nocivo que, por conseguinte, poderá contribuir para a nossa autoexpressão no
futuro. Significa também, estudar e preparar o futuro a tempo. Desfrutar a
juventude significa ainda namorar e experimentar novas coisas, mas sempre em
justa medida (Aristóteles) conscientes de que ainda não é tempo certo para usar
ao máximo a nossa liberdade porquanto ainda dependentes dos nossos pais ou
encarregados de educação ou ainda porquanto conscientes da nossa imaturidade
para conduzirmos uma vida em família.
No
entanto, não devemos nos deixar escravizar pelo tempo, tal como um autor anónimo
revoltou-se contra o tempo no poema publicado no Boletim Unisaf “I don’t like
time/It makes people over timed/It ressucitates slavery[8].
Com isso, quis o autor dizer que a dependência do homem ao tempo pode negar-lhe
a liberdade na medida em que este só passa a viver para obedecer o tempo. Nos
dias de hoje, parece que o homem perdeu a sua liberdade, pois não mais usa o
tempo ao seu dispor, o tempo é que o comanda. É engraçado ver uma pessoa na rua
a correr porque atrasou à missa na igreja ou a um encontro. A pressa denota que
essa pessoa quer cumprir com as ordens do tempo. Esta não usa o tempo, mas o
tempo a usa.
Na
verdade, o tempo só ressuscita a escravatura àqueles que não sabem ser o seu
senhor, isto é, geri-lo, comandá-lo, pois que o senhor é aquele que comanda,
que dirige e gere.
Em
suma, voltando à mesma letra da música de Valete:
[…]
Tempo é
vida, enquanto há vida há tempo
Não há vida sem tempo, não há vida sem felicidade
Não há tempo contado, se tens vida não tens idade
Não interessa a tua idade, a vida dá-te eternidade
Não há vida sem tempo, não há vida sem felicidade
Não há tempo contado, se tens vida não tens idade
Não interessa a tua idade, a vida dá-te eternidade
Dá-te
juventude eterna para teres momentos eternos
Luas fraternas para as tuas noites de inverno
Mano, semeia o fruto onde o teu sonho vive
Ainda há tempo para tudo, ainda há tempo para seres livre[9]
Luas fraternas para as tuas noites de inverno
Mano, semeia o fruto onde o teu sonho vive
Ainda há tempo para tudo, ainda há tempo para seres livre[9]
[…]
O tempo na vida social
É
comum ouvir-se dizer, entre fofocas na sociedade, que o fulano anda sempre nas
barracas a beber, não se dá tempo para estudar ou trabalhar ou para a família.
Ou ouvimos ainda que o sincrano está sempre a estudar, não conversa com
ninguém, não é social, etc. Na verdade o homem é um ser social por essência e,
sendo assim, a sociedade espera dele muita actividade no seu seio. A monotonia
cria dissociação, individualismo e desarmonia na sociedade e ela muitas vezes é
justificada pela falta de tempo. Os trabalhadores argumentam que não tem tempo
de visitar amigos e familiares devido ao trabalho, os estudantes devido aos
estudos, os camponeses devido a machamba, etc. a culpa toda recai no tempo, não
no seu mau aproveitamento e gestão. Pois quem valoriza o tempo sabe o valor de
cada segundo da sua vida.
Para
que haja harmonia nas relações humanas é necessário respeitar o tempo, saber
usá-lo, planejar e cumprir os planos. A temporalidade humana não pode ser
cíclica, porque a vida humana não poderia ter sentido numa série de eventos que
se repetem, sem inovação alguma. Para que a vida humana tenha sentido, a
temporalidade humana deve ser linear e progressiva e isto pressupõe a
existência de um plano preestabelecido pela própria pessoa: nós escolhemos o
nosso próprio destino! Somos fautores da nossa própria história.
Como
exemplo de quão importante é o tempo na sociedade, basta ver o que acontece
quando um casal marca o tempo de encontro para um determinado lugar e um deles
não chega a tempo, ou não comparece por alegada falta de tempo. O clima de
descontentamento é enorme, sobretudo da parte da vítima, e muitas vezes pode levar
a desistência no relacionamento. Outro exemplo, que é comum na nossa sociedade
moçambicana, é a falta de cumprimento do tempo da família. As mulheres
geralmente reclamam que os homens (maridos e filhos) não sabem voltar para casa
a tempo, isto é, pouco antes da hora da família (esta varia de família em
família). Reclamam nos jovens e senhores o hábito de madrugar fora de casa, o
que muitas vezes torna as suas condutas duvidosas na família, bem como cria
desarmonia no seu seio.
A
falta de consciência da importância de tempo faz muitos não fazerem planos nas
suas vidas, nos seus relacionamentos, no seu trabalho o que culmina muitas
vezes em desentendimentos, rejeição, despromoção e menosprezo.
Há
tempo para trabalhar, há tempo para lazer, tempo para namorar, tempo para
reflectir, tempo para família, tempo para amigos. Tudo tem seu tempo!
O tempo na vida profissional
A
frase “não tenho tempo” é própria de quem não sabe usar o tempo. Quem sabe usar
o tempo tem sempre tempo. E se alguém trabalha de tal maneira a não ter tempo
para o lazer, para louvar a Deus, para visitar a família e amigos, significa
que trabalha mal, ou que é vítima de exploração do homem pelo homem. Da mesma
maneira, se alguém brinca ou reza de modo que não possa ter tempo para as
outras actividades importantes para o bem da vida, significa que brinca ou reza
mal, há tempo para tudo basta saber gerir, planejar, usar o tempo de acordo com
o planejado.
A má
gestão e o mau uso do tempo no trabalho pode levar ao stress, que é uma doença que
pode causar tantas outras doenças e problemas no trabalho e nos relacionamentos
interpessoais. Se alguém não sabe usar o tempo arrisca-se a perder a vida, e se
não sabe usar a vida arrisca-se a perder o tempo em coisas fúteis. O tempo é
vida, a vida é tempo. Sempre que chegar um novo ano, e se te sentires
espreguiçado e desmotivado leia o seguinte poema que poderá servir-te de fonte
de inspiração:
ANO NOVO
Doze pancadas – e sobe
o pano.
Começa a peça: é mais
um ano
Palco vazio… Que será?
A peça é boa? É boa ou
má?
Nunca se sabe, leitor
amigo,
Mas ouve bem o que te
digo
Falando a sério, sem
fantasias:
Um ano é feito de
muitos dias.
Para levá-lo direito ao
fim,
Para ganhá-lo, procede
assim:
Sempre que um dia novo
começa
Faz a ti mesmo esta
promessa:
“O dia de hoje vai ser
em cheio.
Horas de estudo ou de
recreio,
Na escola, em casa, por
toda a parte
Dia que passas, quero
ganhar-te.”
E mãos à obra, sem mais
demoras,
Que um dia é feito de
muitas horas,
Mas se uma hora for mal
gasta,
Estraga-se o dia, que
tanto basta…
Dia após dia, mês apos
mês,
La vai o ano – e era uma
vez!
Pensa que há tempo, que
não há pressa…
Ah! Não te iludas!
Vamos, começa!
Começa agora! Começa
hoje,
Que enquanto esperas o
tempo foge.
Leitor amigo… já sobe o
pano!
Vive o teu dia! Ganha o
teu ano![10]
Conclusão
Quantos
perderam oportunidades de progredir na vida, por não terem sabido o tempo de
brincar, estudar, sonhar e trabalhar?
Quantos
perderam seu lar e família, por não terem respeitado o tempo de família, de
voltar para casa?
Quantos
perderam os seus empregos por não saberem o tempo de trabalhar?
Quantos
perderam amigos por não se darem tempo para encontros, lazer e relaxar?
Quantos
perderam batalhas humilhantes por não saberem dar ordens a tempo e apertar o
gatilho?
Quantos
perderam as suas vidas na rua por não saberem voltar para casa a tempo?
Quantos
perderam os seus amores por não comparecerem sistematicamente a encontros
alegando falta de tempo?
Quantos
foram reprovados por não saberem estudar e ou apresentar-se a na hora certa na
escola?
Quantos
são trancados a porta por viverem fora do tempo?
Quantos…?
O tempo
é vida, a vida é tempo! Amemos o tempo, automaticamente amaremos a vida!
[2] O tempo muda
(nossa tradução).
[5] A mudança ou movimento na
Natureza, a sucessão dos dias e das noites e estacoes do ano constituem o tempo
objectivo
[6] O registo do das mudanças, a
sucessão dos dias e das noites e estacoes do ano na alma.
[8] Não gosto do tempo, ele torna
as pessoas superocupadas, ele ressuscita a escravatura.
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