Resumo
O presente artigo
analisa as duas orientações vigentes sobre o género no que tange às relações
entre os homens e mulheres: o machismo e o feminismo. O objectivo é buscar uma
orientação alternativa entre as duas formas de ver o macho e a fêmea humanos.
Parte-se da ideia de que tanto o machismo como o feminismo são movimentos
deficientes e insuficientes para o melhoramento da condição humana e das
relações interpessoais entre homens e mulheres porquanto cada uma apregoa a
superioridade e ou a igualdade em relação a outra colocando um tipo de género
humano como ponto de referência e centro de todas atenções. Assim, defende-se
neste artigo a necessidade de uma orientação filosófica de género que
reconcilie as duas formas de ver a humanidade e que seja síntese da progressão
dialéctica da luta de sexos entre o machismo e feminismo. A orientação proposta
é o humanismo. O trabalho baseou-se na reflexão filosófica e na análise critica
que consistiram no uso da fundamentação lógico-racional, partindo da negação de
como as coisas são e correm, buscando-se soluções alternativas.
Palavras-chave: machismo,
feminismo, humanismo.
Introdução
Quis o destino, que a minha inclinação filosófica fosse
pelos clássicos gregos, embora admire Nietzsche e outros filósofos modernos,
como por exemplo, Rousseau, Kant, Hegel e Marx. Tal vaidade, deve-se, talvez,
ao facto de acreditar que a verdade foi um tesouro mais procurado pelos
clássicos que pelos seus discípulos. A meu ver, a verdade foi prostituída por
Nietzsche e toda a filosofia pós-nietzscheana quando ressuscita a tese
sofistica segundo a qual “o homem é a medida de todas as coisas”, ou seja, que
não existe verdade absoluta, mas verdade relativa e subjectiva. Admiro
Nietzsche mais que qualquer outro filósofo, todavia a sua filosofia
aparentemente revolucionária, não me é pura e só serve para resolver problemas
corriqueiros do seu tempo, sacrificando a verdade. Eis o carácter das
filosofias dos nossos tempos!
Não pretendo reafirmar aqui a tese de que a verdade
absoluta existe, tal como quis Sócrates sustentar, mas sim, preocupado com a
humanidade no seu todo, pretendo que ela caminhe com um norte. Acredito que,
apesar de antropologicamente haver várias humanidades, metafisicamente há traços
comuns que reúnem e determinam a humanidade de todos os seres humanos. São
esses traços comuns que devem servir de ponte e norte para a busca da verdade
sobre e para a humanidade, partindo das diversas humanidades particulares. Para
mim, caminharmos na história sem um norte que nos una como seres humanos,
significa negarmos a nossa essência comum como seres humanos, aliás, o próprio
conceito de humanidade enquanto qualidade para ser ser humano perde o seu
sentido.
Dessa forma, acredito que existe verdade essencialmente
partilhada por todos os homens e mulheres de todas as culturas e raças, embora
no plano da experiência esta se manifeste de forma diferenciada, as vezes até
mesmo de forma cegamente contrária a essa verdade.
Sou da convicção de que em todas as culturas do mundo e
em toda a história da humanidade, homem e mulher sempre foram concebidos como
naturalmente diferentes, porém com essência humanamente igual e estrutura
bio-fisio-psicológica complementar. Essa relação de diferença e
complementaridade tem colocado os homens num lugar de primazia em relação às
mulheres, mesmo nas sociedades ditas matrilineares ou feministas, porque a
natureza fez homem e mulher diferentes.
Neste artigo não procuro ser moralista nem pedagogo. A
minha preocupação é, filosoficamente, buscar a verdade que melhore a condição
social da humanidade. O moralismo muitas vezes sacrifica a verdade. Talvez
tenha tido razão Nietzsche em afirmar que a verdade e a moralidade nem sempre
se encontram. Procurar a verdade pode não nos levar ao bem, e o bem pode nem
sempre nos leva ou corresponde a verdade. Mas eu prefiro encarnar o espírito do
povo quando diz “a verdade dói, mas deve ser dita”.
Portanto, neste artigo, sei que poderei ferir certas
sensibilidades e receber várias críticas, se calhar serei chamado de
tradicionalista, como afirmara minha parceira quando a expus algumas ideias
deste artigo, isso devido à coragem de voltar aos pensamentos clássicos para
sustentar uma tese considerada do passado (tradicionalista). Mas quem disse que
todo o passado é ultrapassado? Engana-se quem assim pensa, pois que, sendo
assim, o estudo da história não faria mais sentido. Os problemas do presente
exigem que revisitemos constantemente o passado, para que este seja um
fundamento de projecção sobre o que almejamos no futuro. Eis a nossa
trajectória filosófica!
Macho e
fêmea. Iguais e diferentes!
Do ponto de vista biológico e psicológico, Deus fez homem
e mulher seres diferentes, opostos e complementares. Esta diferença e oposição
bio-fisio-psicologica não pode ser percebida de forma neutra e estática. Se é
verdade que o aspecto físico e fisiológico influencia o aspecto espiritual e
vice-versa, então a estrutura bio-fisio-psicológica do homem e da mulher
influenciam as suas estruturas sociais e seus comportamentos peculiares, assim
como estes podem influenciar a sua manifestação física e corporal.
O Homem é um ser social, mas a sociabilidade de homem e
da mulher são diferentes, opostos e complementares. A sociabilidade do ser humano
faz parte da sua essência, da sua verdadeira natureza, na mesma linha de
pensamento, a forma como a sociabilidade masculina se manifesta é também natural
e faz parte da sua essência como género masculino e esta é diferente e oposta à
sociabilidade feminina, que também faz parte da essência e da natureza do
género feminino. Esta diferença deve-se ao facto de cada um deles ter dons
naturais diferentes e opostos, de tal maneira que cada um precisa de preencher
a sua insuficiência no outro.
As condições bio e fisiológicas de uma pessoa determinam
a sua condição psicológica e social da mesma e vice-versa. Da mesma maneira, a
consciência condiciona o ser social e o ser social também condiciona a
consciência, ou seja, a consciência e o ser social condicionam-se mutuamente. A
consciência determina a condição social, porém esta também determina a maneira
de pensar dos indivíduos, a sua consciência. A estrutura biológica, a
consciência e o ser social desenvolvem uma relação dialéctica de
interdependência. Por isso, macho e fêmea, porque tem estruturas bio~, fisio~ e
psicológicas diferentes, não podem se comportar pessoal e socialmente da mesma
maneira, nem podem ser naturalmente iguais enquanto macho e fêmea. Eles têm
aptidões, instintos, apetites e inclinações naturalmente diferentes. A sua
igualdade existe apenas enquanto seres humanos: racionais e livres.
Assistimos nos dias que correm a movimentos feministas
com pretensões de pregar a igualdade entre o homem e a mulher, mas falham quando
se trata de implementar a tal igualdade e liberdade. Assim, a questão sempre
recorrente que se pode levantar é: que igualdade? Igualdade em quê e com que
fundamentos?
Diante da questão acima colocada, vários movimentos
feministas buscaram pronunciar-se. Contudo, a meu ver, a que se repensar na
delimitação da igualdade entre o homem e a mulher que estes movimentos
apregoam. Mas antes disso, vejamos quais tem sido as respostas do feminismo
perante o problema colocado.
O Feminismo
e a luta em prol da igualdade
Não existe uma definição exacta do que seja feminismo
dado que toma várias formas e significa coisas diferentes para diferentes
pessoas. Todavia, segundo Isabel Phiri e Sarojini Nadar, pode-se entender por
feminismo à visão social, enraizada na experiência feminina de discriminação e
opressão baseada no género, um movimento que procura liberar as mulheres de
todas as formas de “sexismo” (Phiri e Nadar, p.16).
Para Joann Wolski Conn citada por Phiri e Nadar,
feminismo é:
[…] um conjunto
coordenado de ideias e um plano prático de acção, enraizados na consciência crítica
das mulheres do quanto uma cultura controlada por homens no significado e
acção, para a sua própria vantagem, oprime as mulheres e desumaniza os homens
(Conn apud Phiri e Nadar, 2010, p. 17).
Assim, o feminismo é um movimento que procura reclamar a
igualdade entre homens e mulheres e a liberdade perante a opressão baseada no
género perpetrada pelos homens e que a cultura e a história legitimaram.
Há diversos tipos de feminismos consoante os objectivos
que buscam conquistar, que são: 1) feminismo liberal – dá enfâse à igualdade de
direitos, interpreta o direito à privacidade para incluir o direito de as
mulheres livremente decidirem sobre a sua saúde sexual e reprodutiva; 2)
feminismo cultural - também chamado de “feminismo romântico” dá enfâse a
superioridade moral das mulheres em relação aos homens e aos valores tradicionalmente
ligados às mulheres, tais como a compaixão, alento, e pacificidade. Procura o
melhoramento da sociedade apontando as contribuições das mulheres para o bem-estar
da sociedade; 3) feminismo radical, dá enfâse a disseminação da dominação
masculina, que considera a causa de todos os problemas sociais, e a importância
de uma cultura fêmeo-centrada, caracterizada pelo alento, amor à natureza e
compaixão. Procura eliminar a patriarquia
de modo a liberar as mulheres do controlo masculino em todas as esferas da
vida, incluindo na vida familiar; 4) feminismo socialista, dá enfâse à dominação
masculina branca nas lutas de classes económicas nas sociedades capitalistas.
Este movimento acredita que esta dominação origina a divisão do trabalho com base
no sexo, raça e desvaloriza o trabalho das mulheres, especialmente o trabalho
de educar as crianças. Procura também acabar com a dependência económica das
mulheres em relação aos homens de modo a se estabelecer reformas sociais que
acabem com as divisões em classes e possibilitem a igualdade de oportunidades
de todos no emprego e na participação social.
Em síntese, o feminismo liberal procura igualdade de
direitos, o feminismo cultural reclama a superioridade femininas em relação aos
valores tradicionalmente ligados às mulheres, o feminismo radical reclama
igualdade absoluta entre homem e mulher tanto na espera pública como na privada
e o feminismo social reclama a igualdade de oportunidades económicas e sociais.
Todos estes tipos de feminismos partem de um olhar
parcial da humanidade sem tomar em conta a condição dos homens, ou seja, o
“femene ~ismo” coloca no centro de todas as preocupações a mulher, sem ter em
conta o seu oposto, julgado opressor e a causa de todos os seus problemas.
O feminismo liberal peca ao reclamar o direito de as
mulheres livremente decidirem sobre a sua saúde sexual e reprodutiva sem
considerar a participação masculina (parceiro sexual) nessa decisão. O
feminismo cultural peca ao falar de superioridade em relação aos homens, pois
que tem tendência de querer substituir o seu rival e oposto, que também reclama
superioridade em vários aspectos da vida; devia falar de contribuição e não de
superioridade. O feminismo radical peca ao não admitir quaisquer diferenças
entre homem e mulher e ao querer transpolar a igualdade de direitos e deveres
da esfera pública à esfera privada (família). Enfim, o feminismo social peca ao
acreditar que desigualdades económicas entre homem e mulher se devem ao facto
de os homens terem em toda a história da humanidade restringido os direitos
sociais da mulher, oprimindo-as e subjugando-as; pois, tal tese não tem
fundamentos naturais.
Para nós, todos os feminismos pecam porque não pensam no
melhoramento da humanidade a partir de uma visão holística do ser humano mas
sim, parcial. No sentido prático, estes movimentos tendem a se resumir num
feminismo radical que, como vimos, não admite quaisquer diferenças entre homens
e mulheres, na esfera pública como na esfera privada (família).
Daí, as mulheres passam a confundir-se com os homens como
se a natureza os tivesse feito iguais, quebrando assim a lógica do pensamento
de Deus que consiste em que a ordem no cosmos (mundo ordenado) é fundamentada
pelos opostos (os contrários). Negar esta verdade significa fechar os olhos
voluntariamente para não enxergar a verdade evidente e imediata que o ser
(existência) nos revela.
Entretanto, assistimos nos tempos hodiernos a uma crise
de casamentos, a homossexualidade artificial, a estupros cometidos por fêmeas,
a violência doméstica e toxicodependência feminina, a prostituição legitimada,
tudo consequência da vontade feminina de querer estar em pé de igualdade com o
macho. A questão que nos devemos colocar seria: terá o feminismo melhorado a
condição social da mulher? Tem o feminismo contribuído para o bem-estar (felicidade)
da mulher?
A mulher tem que trabalhar hoje para sustentar a sua
família tal como o seu marido mas também continua a ser a principal encarregada
de cuidar da casa e da sua família (filhos e marido). Não o faz por obrigação,
mas a natureza a deu tal inclinação de tal maneira que não se sente tão feminina
quando não o faz. O que significa que o peso de responsabilidades aumentou e o stress também.
A experiência nos ensina que o feminismo tem tornado as
mulheres mais rebeldes contra seus maridos e, portanto, vem aumentando o índice
de violência doméstica e de divórcios no mundo. Consciente ou
inconscientemente, o feminismo declara guerra ao machismo. Eis que além da luta
de ideias (Hegel), passando pela luta de classes (Marx) e a luta de raças
(Fanon e Mbembe), assistimos a um nova dialéctica: a luta de sexos.
As mulheres são tão emocionadas que quando sabem que são
protegidas por lei abusam excessivamente dos privilégios legais que o direito
lhes oferece. Isto faz com que as mulheres desrespeitem seus homens, querendo
tomar o lugar de comando nas suas famílias, submetendo os seus maridos a
constantes humilhações. Isto contribui para a sua perda de dignidade como
mulheres, não diante dos homens mas diante de si mesmas e diante da sociedade, no
geral.
O
machismo. Homem superior à mulher?
O machismo é um conjunto de atitudes que procuram
fundamentar-se nas leis da natureza e frisa que a natureza ou Deus colocou a fêmea
numa posição subalterna em relação ao macho, porém uma posição não menos
importante e fundamental para a preservação das espécies, da maioria dos seres
vivos animados.
Platao, ao projectar o seu estado ideal n´A Republica
reconheceu a igualdade político-social entre homem e mulher, todavia, a
educacao, que tinha o papel de preparar os cidadãos para exercerem uma função especifica
na polis, devia basear-se nas aptidões e potencialidades naturais da criança. Ora,
sendo que o homem e mulher, em toda a história da humanidade tem manifestado inclinações
naturais diferentes com pouquíssimas excepções, é lógico concluir-se que as mulheres
exerceriam funções peculiarmente femininas no estado.
Enquanto Platão foi idealista, o seu discípulo, Aristóteles,
foi realista. Considera-se este último pai espiritual do machismo, pois que foi
ele que na sua obra “História dos
animais” pela primeira vez falou da superioridade natural masculina em relação
à fêmea, a partir da observação, experimentação e comparação do comportamento
dos diferentes tipos de animais (incluindo o ser humano) na sua constituição
biológica, fisiológica e psicológica, buscando semelhanças e dissemelhanças. Neste
estudo empírico-descritivo (zoológico), observou que em todos os animais em que
há distinção de sexos, a disposição da fêmea “…é mais fraca, mais mansa e submissa,
e mais artificiosa…”. Por outro lado as fêmeas são geralmente menos violentas
em suas paixões do que os machos… e a disposição dos machos é oposta, pois são
mais ardentes e ferozes, mais francos e menos invejosos. E estas
características notam-se em todos os animais, porém, são mais distintos
naqueles animais que têm consciência moral, neste caso, os homens (Aristóteles,
2008, p. 205-2010).
Para sustentar estas ideias, também recorreu Aristóteles
à observações fisiológicas e biológicas, como podemos ver na seguinte citação:
[…] masculino é aquele em que reside o principio do movimento e da geração,
o feminino aquele em que reside o principio do material. O varão produz o
sémen, que tem a faculdade de iniciar a geração e desenvolvimento. Também a mulher
produz uma espécie de sémen (mens trum),
mas este fornece essencialmente a matéria para o desenvolvimento. O sémen
feminino não é matéria bruta e morta; tem simplesmente um grau de vida inferior
ao do sémen masculino, tem somente a alma vegetativa, enquanto que o sémen do
varão está penetrado também pela alma sensitiva. Esta relação é também válida
em certo sentido para o varão e a mulher; a mulher só alcança um grau de
desenvolvimento do ser humano inferior ao do varão (Idem).
Embora, até um certo ponto, Aristóteles tenha exagerado
sobre a superioridade dos homens em relação as mulheres, ao desprezar a
contribuição feminina para a preservação da espécie e ao recusar que as
mulheres participassem na administração da polis,
relegando-as às actividades domésticas, as suas observações zoológicas são por
experiência confirmáveis e baseadas num estudo de caso. De facto, o carácter do
macho em várias espécies de animais é o de ser activo, forte e dinâmico,
enquanto que as fêmeas são passivas, fracas e preguiçosas (excepto em certos
dons que a natureza lhes deu, como o de cuidar da sua família e lar, por
exemplo).
Portanto, em várias sociedades, o comportamento machista
tem sido encarado de forma natural e legítima, uma vez que condiz com a forma
de pensar do macho e fêmea que a natureza lhes deu.
Já o feminismo é um movimento que, não tendo fundamentos
naturais e teológicos, apoia-se na história e na civilização. Sustenta que toda
a história da humanidade foi uma história de submissão, inferiorização e
opressão das mulheres pelos homens. Contudo, reclama a liberdade e igualdade
apoiando-se na própria civilização, ou seja, na ideia do progresso do espírito
humano, segundo a qual quanto mais o espírito humano vai progredindo, mais vai
ganhando maior consciência da liberdade, liberdade de todos e de tudo (homens,
mulheres, crianças, os animais e a natureza). Dessa forma, o feminismo não tem
fundamentos naturais para auto-sustentar-se. Salienta-se que muitas são as mulheres
que compreendem que quem mais oprime a mulher é a própria mulher e não o homem,
pois a mulher tem naturalmente um instinto de dependência psicológica, social,
económica e política em relação ao homem. Toda a mulher tem o instinto natural
de dependência em relação ao homem, querendo como não, consciente ou
inconscientemente.
Portanto, não constitui verdade a tese segundo a qual,
marxianamente falando, toda a história da humanidade foi sempre a de opressão
das mulheres pelos homens, dado que este comportamento não se manifesta apenas
nos seres humanos mas também na maioria dos animais não racionais, como
observara Aristóteles. Aliás! faz parte da lei da natureza, ou seja, da lei dos
contrários, que sendo opostos, ou duas faces da mesma moeda, o número tem
sempre uma posição ontológica de primazia em relação ao bánder. Entretanto, ontologicamente, homem e mulher constituem uma
unidade em que o homem tem primazia em relação a fêmea, tal como procura
sustentar a Bíblia: a mulher deriva da costela do homem. Além disso, se as
mulheres deixaram-se oprimir durante milhares de anos, isto deveu-se à sua predisposição
natural de submissão aos machos.
Quando falamos de primazia não pretendemos falar de superioridade
e inferioridade de um sexo em relação ao outro do ponto de vista da humanidade
(qualidade para ser ser humano), mas sim do privilégio ontológico que um tem em
relação ao outro, neste caso, que o macho tem em relação a fêmea.
Machismo
X feminismo = Humanismo
Em de vez de se lutar contra o machismo através do
feminismo, que são movimentos extremamente antitéticos, deve-se pregar o
humanismo como síntese dos dois opostos, em que o machismo apresenta-se como
tese e o feminismo como antítese, ou seja, deve-se procurar melhorar a condição
humana, sem discriminação nem da mulher nem do homem.
A emancipação feminina não deve ser vista como uma
emancipação em relação ao homem, mas sim como auto-emancipação. Auto-emancipação
significa que as mulheres devem ser as principais agentes desse acto de
libertar-se da natureza subalterna em relação aos homens, dado que uma
emancipação que provém de fora (masculina) em prol das mulheres revela-se mais
discriminatória na medida em que supõe que as mulheres não são capazes de, por
suas próprias forças, elevar o seu estatuto social, político e económico. Por
exemplo, a meu ver, não é emancipação admitir um bom número de candidatas ao
ensino superior com nota muito inferior à dos rapazes não admitidos, como tem
acontecido nalgumas instituições do ensino superior moçambicanas na tentativa
de equilibrar o género nas carteiras dessas instituições; se se quiser
emancipar as mulheres de verdade, que se deixe que elas compitam com os rapazes
e sejam admitidas por mérito.
O feminismo deve deixar de acreditar que foram os homens
que roubaram os seus direitos, os seus privilégios na história e que se deve
lutar para o resgate da igualdade negada pelos homens. Direito nenhum foi
roubado pelos homens, estes são e sempre foram condicionados a pensar de certa
forma pela natureza que sendo animais racionais e machos, a sua animalidade
manifesta-se através dos seus instintos de macho e estes não devem ser
menosprezados, fazem também parte da sua essência e fundamentam o seu machismo
(entendo por machismo a manifestação dos instintos de macho e não a tendência
de oprimir a mulher como se pretende dizer entre os feministas).
O erro consiste, usualmente, em falarmos da racionalidade
do ser humano sem ter em conta que a sua animalidade é também a sua essência,
sua manifestação própria (masculina ou feminina). Comportar-se como macho faz
parte da essência do ser humano do género macho e o mesmo equivale a
comportar-se como fêmea. Nós compreendemos a essência dos entes através da sua
manifestação fenoménica (Sartre). Por isso, macho e fêmea não podem ser
ontologicamente iguais, e isto tem implicações no âmbito psicológico, biológico
e social.
Para mim, é lógico que um homem seja machista (entenda-se
o machismo como a manifestação de um macho enquanto tal) e a mulher seja
feminista ( entenda-se como carácter manifesto de uma fêmea enquanto tal) mas
não é lógico que um macho seja feminista nem a fêmea machista. Pelo contrário,
se se quiser reivindicar igualdade de direitos tanto da parte das mulheres
quanto da dos homens, ambos os géneros deviam encontrar um meio termo que os
reconcilie. Para mim, esse meio-termo é o humanismo. Pois, não pode haver
igualdade de direitos, enquanto cada uma destas orientações de pensamento sobre
as relações sociais se fechar no seu polo extremo sem ter em conta a
consideração do outro enquanto tal.
O feminismo aparece assim como um movimento dialéctico antitético
em relação ao machismo. Nesta dialéctica, o feminismo é um movimento antitético
necessário à tese machista, porém, sartreanamente expressando, destinado a
desaparecer na história. A história testemunhará a sua necessidade passageira
quando se chegar ao humanismo, o estágio em que, do ponto de vista de relações
sociais, o espírito humano terá chegado ao seu auge, será o cume da civilização
e o fim da história.
O feminismo é um movimento necessário porque faz com que
o machismo tome consciência das suas deficiências e da necessidade de
restruturação das relações sociais. Porém, chegará o momento em que o próprio
feminismo perceberá a sua própria deficiência enquanto um movimento
diametralmente oposto ao machismo, sem uma visão holística da humanidade de
ambos os sexos.
Tanto o machismo assim como o feminismo são deficientes
para melhorar a condição existencial da humanidade porquanto vêem a humanidade
de forma fragmentada, em polos opostos e incomunicáveis; o humanismo aparece
como uma síntese das duas correntes de pensamento porquanto preza o
melhoramento do ser humano.
A história caminha para o humanismo. Por humanismo
pretendemos designar a chegada de um estágio da humanidade em que a mentalidade
humana, em que a dignidade do ser humano não serão reconhecida com base no
sexo, na raça, na classe social, ou qualquer artifício humano, mas sim, essa
dignidade será reconhecida na base da natureza essencial do ser humano:
racional, livre, instintiva, de vontade e social. Neste estágio, a humanidade
reconhecerá que a igualdade e liberdade político-sociais (não naturais) são
direitos de todos independentemente da sua raça, classe social, orientação
sexual, género, cultura etc. Contudo, esta igualdade não deverá ser entendida
como homogeneidade mas sim como igualdade nas diferenças naturais entre homem e
mulher e entre diversas raças; deve ser entendida como igualdade nas diferenças.
Estas diferenças implicam uma relação de complementaridade e não de
superioridade e inferioridade, e a complementaridade pressupõe uma relação de
interdependência de coisas ou pessoas diferentes.
A diferença entre homem e mulher não deve ser vista de
forma vertical, considerando uma relação hierárquica de superioridade e
inferioridade, mas sim deve ser vista de forma horizontal, obedecendo a ordem
de primeiro e último. A verticalidade implica subordinação, dominação e
opressão; a horizontalidade implica complementaridade, solidariedade e comunhão.
Conclusão
No desenvolvimento deste artigo, partimos da ideia
segundo a qual em todas as sociedades homem e mulher foram concebidos de forma
diferente e oposta, porém complementar. Estas diferenças de oposição têm uma
forte ligação com as suas características biológicas, fisiológicas e
psicológicas, o que implica diferenças nas suas manifestações sociais.
Afirmamos que o feminismo é um movimento que procura
liberar as mulheres de todas as formas de opressão baseadas no género, ou de
qualquer sexismo, defendendo a igualdade de género. Em contrapartida,
apresentou-se a ideia aristotélica que fundamenta o machismo baseado no
carácter natural de macho e fêmea em todas espécies de animais, sobretudo entre
os seres humanos.
A tese defendida é a de que os argumentos feministas são
pouco prováveis dado que não condizem com o que a natureza revela e apoiam-se
no progresso do espírito humano das mulheres, ou seja, no desenvolvimento da
consciência da liberdade do ser humano, nesta caso das mulheres.
Criticamos ambos os movimentos, feminista e machista porque
vêm a humanidade de forma fragmentária sem terem em conta uma visão holística
da humanidade e sem comunicarem entre si em busca de um meio-termo. O feminismo
reclama a liberdade e igualdade colocando a fêmea no centro das atenções, esquecendo-se
da humanidade e do condicionamento natural do seu oposto. O machismo fecha-se
nas suas teses naturalistas que sustentam a superioridade do macho em relação a
fêmea, sem ter em conta a importância do papel da fêmea na sociedade e sem
consciência das novas exigências do progresso sócio-histórico.
Diante desta dialéctica de luta de sexos, propomos que
cessem as marchas em prol do feminismo; cessem as discriminações machistas
contra as mulheres e fale-se do humanismo: meio-termo, ponto de encontro e
reconciliação e síntese do progresso dialéctico entre o machismo e feminismo.
Ou seja, devem homens e mulheres juntos lutar pelo respeito mútuo, pelo
melhoramento de ambas suas humanidades e humanidade de todos os seres humanos,
reconhecendo as suas igualdades e diferenças.
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