RESUMO
O presente
ensaio avalia o grau de intervenção das instituições sociopolíticas no combate
aos suicídios no Município da Maxixe, partindo da descrição epidemiológica do
fenómeno, bem como da análise das estratégias de prevenção adoptadas por essas
instituições. Se em 2012, a OMS classificou Moçambique como o país com mais
suicidas de África, em 2015, o Jornal Verdade atribui à província de Inhambane
com mais suicidas do país do ano 2014, sendo Maxixe um dos municípios
problemáticos com uma taxa anual média de 13 suicídios por 100 000 habitantes.
Em termos metodológicos, a pesquisa toma como métodos de abordagem, o
qualitativo na vertente fenomenológica e o método de amostragem por
conveniência. A pesquisa constatou que são os adultos e idosos que mais se
matam, se tomarmos em conta a idade; e são os solteiros e casados em união de
facto que mais se matam, se tomarmos em conta o estado civil; e pessoas
desempregadas ou com trabalho por conta própria que mais se suicidam, se
tomarmos em conta a ocupação profissional. As causas imediatas mais frequentes
são passionais (conflitos conjugais ou separação) o abandono e a marginalização
dos idosos que contribuem para que estes se suicidem; as causas sociais mais
frequentes são, o baixo nível de desenvolvimento socioeconómico do Município de
Maxixe, o desemprego, as fofocas, a discriminação dos idosos e a superstição; o
meio mais usado para a consumação do acto é a forca. Diante disso, os munícipes
avaliam negativamente o grau de intervenção política no combate aos suicídios
no município, pois as estruturas dos bairros só intervêm quando o fenómeno
ocorre e não promovem projectos que valorizem a vida no sentido de se prevenir
suicídios neste município. A pesquisa conclui que o nível de intervenção
política no combate aos suicídios neste município é mau, pois este tem sido
ignorado como um problema sério pela maioria das instituições, sobretudo pelo
Concelho Municipal da Maxixe. Diante deste cenário, a OMS (2012; 2014)
incentiva os governos de todo o mundo a tomarem a prevenção do suicídio num
imperativo global e, dessa forma, a criarem políticas e estratégias de
prevenção do fenómeno com base na realidade concreta desses países. Assim, o Município
da Maxixe através das suas instituições sociopolíticas, devia dobrar esforços
no sentido de combater os suicídios e tomá-los como problema sério a ser
combatido tomando em consideração a realidade local.
Palavras-chave: Suicídios;
Sociedade; Intervenção política; Município de Maxixe.
ABSTRACT
The present essay evaluate the
sociopolitical institutions intervention degree in fight against suicides in
Maxixe Municipality, departing from epidemiological description of the
phenomenon, as well as from the analysis of the strategies of prevention
adopted by those institutions. If in 2012, WHO ranked Mozambique as the most
suicidal country in Africa, in 2015 “Jornal Verdade” attributed to Inhambane
province the degree of the most suicidal province in the country in the 2014
year, being Maxixe one of the most problematic municipalities, with an annual
rate about 13 cases in 100 000 inhabitants. In methodological terms, the
present research takes as approach methods the qualitative method in
phenomenological component and the sample by convenience. The research
determined that the adults and elders are who most kill themselves, if we take
the age in consideration; and single and people in marital fact situation are
who most kill themselves, if we take in consideration the marital state; and
unemployed people or people with their own business are who most kill
themselves, if we take in consideration the professional occupation. The most
frequent immediate causes are passionate (marital conflicts or separation) and
the abandon and marginalization of the elders that contribute so that these
persons commit suicide. The social causes are the low level of socioeconomic
development in MM, the unemployment, gossips, the elders’ discrimination and
the predominance of superstition; the most used mean to the act consummation is
the noose. In the face of this situation, the residents of Maxixe Municipality
evaluate negatively the degree of political intervention to combat suicides in
the municipality, because the structures of the districts only intervene when
the phenomenon occurs and they don´t promote projects that value life to
prevent suicides in this municipality. The research concludes that the degree
of political intervention to combat suicide in the municipality is bad, because
suicide has been ignored as being a serious problem by the majority of
institutions of the municipality, mainly by Maxixe Municipality County. In face
of this reality, WHO (2012; 2014) encourage the governments of all over the
world to consider suicide prevention a global imperative and, in this way,
create policies and strategies to prevent the phenomenon according to the
concrete reality of these countries. So the Maxixe Municipality must double
efforts in order to fight against suicide through its institutions and consider
it as a serious problem that should be fought against taking in consideration
the local reality.
Key-words: Suicide; society; political intervention; Maxixe
Municipality.
1. Da
problemática conceptual á problemática epidemiológica do suicídio
Nesta parte do trabalho iremos discutir o
conceito do suicídio e os paradoxos que nele podemos encontrar entre os
diversos pensadores, diversas manifestações e diversas teorias até
desembocarmos ao problema epidemiológico deste fenómeno no mundo.
1.1.
A problemática conceptual do suicídio
O suicídio constitui um problema social e até
mesmo filosófico muito sério, porque falar de suicídio implica procurar
entender o sentido da vida, se vale a pena ser vivida (Albert Camus). Implica
também perceber o estado da sociedade e os factores sociais e outros que
influem na vida das pessoas e que as induzem a acabar com as suas vidas.
Para Durkheim, que é um clássico no estudo sociológico
do suicídio, o suicídio é um acto voluntário, consciente e intencional,
positivo ou negativo, de acabar com a própria vida (Durkheim, 2000: 14).
Durkheim coloca como indício central de
suicídio, a consciência que o individuo suicida tem de que o acto que vai
cometer causar-lhe-á a morte.
Na mesma linha de pensamento, a OMS (2014:12)
define o suicídio como sendo “o acto de deliberadamente matar-se a si próprio”.
Porém, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) do Brasil, defende que
“independentemente da intenção ou consciência, independentemente dos meios
usados, da motivação e da conjuntura em que o fenómeno ocorre, toda a morte
autoinfligida é suicídio” (CFP, 2013: 17).
No entanto, torna-se difícil definir o que
seja suicídio devido à existência de vários factores do suicídio e devido à
existência de vários comportamentos suicidários[1]
que se confundem com o suicídio, como são os casos de consumo abusivo de
substâncias psicoactivas, a condução de veículos em estado de extrema
embriaguez, ou quaisquer outros comportamentos de risco e de automutilação
(Idem).
Alvarez, A. na sua Obra “O Deus selvagem”, considera o suicídio um problema muito complexo
e, portanto, que nenhuma teoria poderá dar uma explicação cabal e definitiva
sobre o mesmo dado que envolve infinitas razões e tão complexas. Entretanto,
toda a explicação do suicídio é uma explicação parcial, ou seja, o estudioso
explica as razões de um determinado acto de suicídio tal como as entende
(Alvarez, 1999, p. 12)
Várias são as teorias que tentam explicar o
suicídio, porém nenhuma delas por si só pode explicar cabalmente um fenómeno
tão complexo, multideterminado e difícil de investigar como este, como afirmou
Alvazez: “o suicídio é um mundo fechado que tem uma lógica própria e
irresistível” (Ibid., p. 127).
Segundo a teoria psicanalítica o suicídio pode
ser explicado a partir de transtornos de humor (depressão), transtornos mentais
e comportamentos decorrentes do uso de substâncias psicoativas (ex.
alcoolismo), transtornos de personalidade (ex. comportamento anti-social);
esquizofrenia; transtornos de ansiedade.
A teoria psicológica defende que o suicídio
está associado à perdas recentes, perdas de figuras parentais na infância,
dinâmica familiar conturbada, datas importantes, reacções de aniversário,
personalidade com traços significativos de impulsividade, agressividade, humor
hábil;
A teoria clínica associa o suicídio à doenças
incapacitantes, dor crónica, lesões desfigurantes perenes, deficiência física,
epilepsia, trauma medular, neoplasias malignas, HIV/Sida.
A teoria económica - sustenta que as práticas
administrativas associadas a outros factores são causas dos suicídios. Para
esta teoria, os modelos de gestão ou práticas administrativas modernos são
baseados nos avanços tecnológicos, o que diminui a necessidade de mão-de-obra
em massa, criando desse modo o desemprego. As pessoas vivem com medo do
desemprego na sociedade capitalista, tornando-as dependentes das empresas o que
faz aumentar as pressões para que elas se identifiquem e incorporem os seus
valores como verdadeiros dogmas. Entretanto, segundo esta teoria, as
organizações são prisões psíquicas, e a gestão do afectivo cresce como
estratégia de controlo e poder (Bastos, 2010, p. 5).
A teoria sociológica defende que o suicídio
está associado aos seguintes factores externos ao individuo: a idade, sexo,
extractos económicos extremos, local de residência; ocupação profissional,
estatuto social, isolamento social, estado civil, Identidade nacional
(migrantes, imigrantes, etc.)
Etimologicamente, o termo suicídio deriva do
latim sui – de si – e caedere – matar, que significa morte de si, ou morte autoinfligida e aparece muito tarde em relação ao próprio
acto de suicidar-se. Alguns estudiosos acreditam que foi pela primeira vez
usado em 1651, mas já se encontrava escrito na obra de Sir Thomas Browne, de
título “Religio Medici”. Antes deste
termo eram usadas expressões como “self
murder” (auto-assassinato) , “self-homicide”
(auto-homicídio) , “self-slaughter”
(auto-massacre). Estas expressões reflictiam a pretensão cristã de considerar o
suicídio como um assassinato (Alvarez, 1999, p. 63; Shikida et al, 2006, p. 4). Outros afirmam que o
termo foi usado pela primeira vez por Desfointaines em 1717 para designar o
acto deliberado através do qual o indivíduo decide intencionalmente provocar a
sua própria morte (Costa, 2013: 16). Torna-se difícil estabelecer um consenso
entre os diversos autores.
Pensar no suicídio faz parte da natureza
humana e resulta da sua liberdade de escolha, no geral, e da liberdade de
escolha do estilo e qualidade de vida que deseja levar, em particular.
Para Martin Heidegger (2005) do “Ser e
Tempo” o homem é um ser para morte, porquanto é um ser consciente do seu
fim, da sua temporalidade e da sua projecção histórica enquanto um mar de
possibilidades que, se não forem realizadas ele manifesta angústia e desespero,
fonte de atracção e desejo de morte.
O suicídio geralmente revela o fracasso do
individuo na vida, revela o culminar de uma confluência de problemas que
tornaram a vida insuportável e absurda (Camus), ou seja, sem sentido.
Assim, o suicídio resulta de um sofrimento
interior insuportável que torna o indivíduo desesperado ao ponto de desejar a
sua própria morte. Ele é um meio que o individuo suicida usa para se comunicar
aos demais, as suas frustrações, tormentos, dores, decepções, desespero e angústia
e que não houve ou viu nenhuma outra alternativa de se livrar dos seus pesares
senão tirar a sua própria vida (Toro et
al, 2013, p.7).
O suicídio aparece como uma única solução de
resolução de vários problemas que se encadeiam ao longo da história da vida do
individuo, como destacou um estudante suicida, ex aluno meu no filme em que ele
documenta previamente a sua própria morte “Mil
Problemas, Uma Solução[2]”.
O suicídio geralmente manifesta-se como uma
solução aos milhares de problemas que o individuo vem suportando no curso da
sua vida. Mas, apesar de ser visto como única solução a uma série de problemas,
o suicídio não é geralmente visto como um fim para tudo, mas, pelo contrário,
como única alternativa possível para uma determinada situação imediatamente
insuportável e aparentemente sem resolução (Cfr. Ferreira, 2008, p. 6).
Dessa forma, o suicídio é um pedido de ajuda
de resolução de problemas da pessoa que está a sofrer, e que não visa
essencialmente acabar com a sua própria vida, mas sim ter uma vida de qualidade
e de acordo com a sua concepção de qualidade de vida.
1.2.
Comportamentos suicidários
Existem vários comportamentos suicidários, ou
seja, comportamentos que atentam contra a vida, que são:
Parassuicídio- acto ou comportamento não
fatal, eventualmente não habitual num dado indivíduo e com o qual ele não tem
clara intenção de morrer, mas no qual se arrisca a danos em si mesmo (mais ou
menos graves) caso não exista intervenção de outrem (Oliveira et al, 2001, p. 510; Ferreira, 2008,
p.18).
Tentativa de suicídio - a OMS (2014, p. 12)
considera tentativa de suicídio ao comportamento suicida não fatal e refere-se
ao autoenvenenamento, autoinjúria ou autodanificação que pode ou não ter um
resultado fatal.
As tentativas do suicídio diferem do
para-suicídio, pois nas tentativas do suicídio o nível de intencionalidade
suicida é superior em relação ao para-suicídio (Silva, 2013, p.11). O
parassuicídio relaciona-se aos comportamentos de risco.
Em cada morte de um adulto por suicídio há
mais de 20 tentativas de suicídio (OMS, 2014, p. 9).
As tentativas de suicídio são mais comuns
entre jovens e no sexo feminino, enquanto que os suicídios são mais frequentes
no sexo masculino e nos idosos, por exemplo, ingestão excessiva de substâncias
psicoactivas (Idem);
Ideação suicida - é alimentação persistente da
ideia de se matar, mas que nunca seja a ser realizada. É pensar constantemente
em acabar com a própria vida e não consumar o acto.
Existem vários tipos de suicídio, determinados
de acordo com a área de pesquisa de quem os classifica, aqui iremos apresentar
apenas os tipos de suicídio na perspectiva sociológica (que é a nossa área de
interesse), de acordo com o clássico do estudo sociológico do suicídio, Émile Durkheim.
Em Durkheim (2000) há três tipos de suicídios:
(1) O suicídio egoísta, que resulta da existência de pouca integração social ou
pouco desenvolvimento de laços sociais dos indivíduos na sociedade; (2)
suicídio altruísta, que resulta da extrema integração social do individuo na
sociedade ao ponto de perder a sua identidade como pessoa e acredita que sua
morte pode ser um benefício para a sociedade; e o (3) suicídio anómico, que
resulta da fraca regulação da sociedade, ou seja, quando as normas da sociedade
não correspondem aos objectivos de vida do individuo.
1.3.
Ideias
sobre o suicídio ao longo da história
Ao longo da história, o suicídio foi conotado
de diversas formas, ora como um acto corajoso, ora como pecado, ora como crime,
ora como um mal, ora como patologia e loucura (Cfr. Pedro, s/d.: 2).
Na Grécia antiga, os gregos só se suicidavam
pelas melhores razões possíveis: por pesar, por princípios patrióticos ou para
evitar a desonra. Ou seja, os gregos toleravam o suicídio e até o louvavam,
desde que a pessoa apresentasse à justiça razões suficientes para consumar o
acto (Cfr. Alvarez, 1999, p. 61, Durkheim, 2000).
Já os romanos, não viam o suicídio com medo
nem com repulsa, mas com dignidade e segundo os princípios que haviam escolhido
para orientar as suas vidas. Para eles, “viver de forma nobre também
significava morrer de forma nobre e no momento certo” (Alvarez, 199, p. 75).
Os romanos somente puniam o suicídio se fosse
feito sem motivos justos porque o consideravam irracional e não crime, ou seja,
na lei romana o suicídio era um crime estritamente económico e não uma ofensa
nem violação da moral nem violação da norma religiosa, mas apenas contra os
investimentos de capital da classe proprietária de escravos ou do tesouro do
Estado (Ibid., p. 75-76).
Portanto, a Europa pagã, isto é, antes da
introdução do cristianismo, tolerava o suicídio, porém quando se introduz o
monoteísmo cristão há certa intolerância religiosa e também do suicídio,
considerando-o um crime capital baseando-se nas ideias duma das leis do
Pentateuco “não matarás” e do reforço que Santo Agostinho faz sobre essa lei
(Ibid., p. 65).
Segundo Agostinho de Hipona o suicídio é
“homicídio de si”. Para o santo, quem tira a sua própria vida é homicida e a
culpa pela sua morte é mais grave quanto mais inocente terá sido a causa da morte
(Agostinho, 2006; p. 149).
Toda a Idade Média condenou o suicídio até
que, com a Revolução Francesa, que pregava como valores essenciais, a
liberdade, a igualdade e a solidariedade, foram abolidas as medidas e leis
condenatórias contra o acto de matar-se.
Actualmente o suicídio é socialmente (não
necessariamente do ponto de vista legal) condenado pela maioria das sociedades,
em particular, e aquele que é usado como método para a prática do terrorismo
por quase todas as sociedades, no geral (Shikida et al, 2006 p. 5).
1.4.
A dimensão social de suicídios
Segundo Durkheim (2000), identificar as causas
individuais de suicídios contribui para compreender as motivações pessoais que
levaram o indivíduo a se matar, porém não contribuem pra explicar as variações
regionais da taxa social de suicídios. Entretanto, em Durkheim o suicídio é um
fenómeno social e cada sociedade tem certa predisposição para certa taxa social
de suicídios, baseada no nível de integração social dos indivíduos. Quanto mais
profunda for a integração social, menor será a probabilidade de que os
indivíduos venham suicidar-se e quanto menos profunda a integração social,
maior será a probabilidade de que os indivíduos se suicidem.
De acordo com Netto (2007) os suicídios são
determinados pela sociedade em que acontecem; sendo, na esteira de Berger e
Luckman (2004), uma construção social da realidade, vinculada ao contexto
histórico-social dessa mesma realidade. As circunstâncias do ambiente físico,
socioeconómico e cultural no qual as pessoas nascem, vivem, trabalham e
envelhecem influenciam, positiva ou negativamente, a saúde pública mental
(Loureiro, 2018; p. 4)
Entretanto, as causas sociais têm primazia em
relação as causas psicopatológicas, pois que, segundo Adam e Herzlich (2001),
as doenças têm um carácter histórico, pois resultam da realidade
histórico-social em que aparecem, ou seja, "de complexas interacções entre
processos orgânicos e factores sociais" (Ibid. p. 11). Por exemplo, a
depressão é conhecida como “a doença da modernidade” porque, segundo Simmel
(2005), a sociedade moderna capitalista caracteriza-se pelo distanciamento e
pelo anonimato, o que cria problemas psíquicos e aumenta o índice de
transtornos mentais. Entretanto, o social relaciona-se directamente com o
psíquico, na medida em que a realidade social cria e intensifica os problemas
psíquicos (Pedro, s/d.: 7).
Dessa forma, na investigação sobre as causas
dos suicídios, as ciências sociais e ciências do comportamento, devem
considerar o papel da sociedade, avaliando os seus aspectos socioeconómicos e
culturais (Pedro, s/d.: 1)
Portanto, “a classificação das diferentes
causas do suicídio deveria ser a classificação dos próprios defeitos da nossa
sociedade” (Da Silva, 2012, p. 4).
Uma taxa social elevada de suicídios denuncia
o mal-estar da sociedade em que se verifica, por isso que o suicídio é um
fenómeno social que deve ser tomado a sério no sentido de se prevenir.
1.5. A problemática epidemiológica do suicídio
O
suicídio é umas das principais causas de morte no mundo e um problema discutido
por diversos autores e organizações internacionais de saúde que lutam pela
melhoria da saúde pública. Embora seja prevenível, o suicídio mata em cada 40
segundos uma pessoa algures no mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), o suicídio é a segunda maior causa de mortes no mundo sendo a maioria
dos que se matam jovens entre os 15 a 29 anos de idade (OMS, 2014: 6).
Os
dados estatísticos de 2012 da mesma organização, estimam a ocorrência de mais 804
000 casos de suicídios no mundo, perfazendo uma a taxa anual de 11.4 por 100
000 habitantes. Entretanto, estes dados não são exactos dado que muitos casos
de suicídio não são reportados pelo facto de o mesmo ser ilegal nalguns estados
e pela prevalência do estigma ao suicídio (OMS, 2014: 10).
Avimar
Ferreira Júnior no artigo intitulado “Comportamento
suicida no Brasil e no mundo”, baseando-se nos dados da OMS (2012),
apresenta Moçambique como um dos países do mundo que apresenta maior índice de
suicídios, e o país africano que apresenta a mais elevada taxa de suicídios,
tendo-se registado uma taxa de 27,4 mortes voluntárias por cada 100 mil
habitantes (Júnior, 2015: 2).
Por
ser um problema sério que afecta a nossa vida social, económica e psicológica,
achamos pertinente fazer um estudo de avaliação do esforço do governo municipal
da
Maxixe
através das instituições sociopolíticas da urbe na prevenção do fenómeno. A
preocupação principal do estudo é a de avaliar as estratégias e o grau de
intervenção política que o município vem implementando através das instituições
sociopolíticas para a minimização do fenómeno.
A delimitação do tempo de estudo, partindo de
2010, explica-se pelo facto de neste ano ter-se introduzido no país um novo
governo, resultado das eleições de 28 de Outubro de 2009, nas quais para além
de se ter votado no Presidente da República e os deputados da Assembleia da
República, pela primeira vez foram votados deputados para as Assembleias
Provinciais, facto importante para perceber a relação entre a dimensão social
de suicídios e intervenção política por parte do novo governo, no geral, e do
governos municipais, em particular. Ademais, dois anos depois da formação do
novo governo em Moçambique, em 2012, começa-se a se preocupar com as mortes por
suicídio, devido ao facto de se ter constatado uma explosão deste fenómeno e,
por ter sido neste ano em que a OMS avaliou Moçambique como um dos países que
apresentam maior índice de suicídios em África, tendo-se verificado no mesmo
ano, só na Universidade Pedagógica de Maxixe, então Universidade Pedagógica
Sagrada Família e, actualmente, UniSave extensão de Maxixe, onde exercemos a
função de docente, cerca de 3 (três) casos de morte por suicídio entre os
estudantes.
A delimitação do tempo limite de estudo, ano
2015, explica-se, por um lado, por ser o ano em que houve mudança de governo,
fruto do fim do mandato do governo sob a liderança do antigo Presidente da
República de Moçambique, Armando Guebuza, cuja governação do país no seu
segundo mandato (2009-2014) constitui o objecto de estudo neste projecto; por
outro lado, foi em 2014 (ano do término do segundo mandato do governo do
presidente Guebuza) que se verificou o maior índice de mortes por suicídio na
província de Inhambane, tendo-se registado mais de 100 casos.
Além de tudo isto, foi em 2014 que a OMS se
esforçou em traçar estratégias para a prevenção do suicídio junto com os
governos nacionais, tendo lançado o seu primeiro relatório de prevenção de
suicídios, fruto de uma ampla pesquisa sobre o tema para subsidiar a construção
de políticas de prevenção do fenómeno.
A delimitação do campo de estudo, Município de Maxixe, deve-se ao facto de ser uma das
localidades da província de Inhambane que apresenta taxas elevadas de suicídios[3] com uma
taxa anual de morte por suicídios correspondente a 13 óbitos por 100 000
habitantes, segundo os dados fornecidos pelo SERNIC em paralelo com os
municípios de Inhambane e Massinga. Também, explica-se por ser neste município
que, na qualidade de residente e docente universitário, venho vivenciando e
acompanhando relatórios de suicídios entre parentes, amigos, alunos e vizinhos.
2. DESCRIÇÃO DAS TAXAS SOCIAIS DE SUICÍDIOSNO
MUNICÍPIO DE MAXIXE
Tabela nº 01: Taxas sociais anuais de suicídios por 108 824 habitantes
(2010-2015)
Ano |
2010 |
2011 |
2012 |
2013 |
2014 |
2015 |
Suicídio/total de habitantes |
12 |
10 |
11 |
14 |
13 |
16 |
Coeficiente/100 000 habitantes |
11,02 |
9,2 |
10,1 |
12,9 |
11,9 |
14,7 |
Fonte: O autor com base nos dados
colhidos no SERNIC
Em
2010, a taxa social de suicídios foi de 12 casos registados no município, que
corresponde ao coeficiente de 11,02 por 100 000 habitantes, tendo vindo a
decrescer em duas unidades em 2011 (10 casos de suicídios com o coeficiente de
9,2 por 100 000 habitantes) e decresceu em uma unidade em 2012 (11 casos de
suicídios correspondente ao coeficiente de 10,1 por 100 000 habitantes). Ou
seja, se de 2010 a 2011, a taxa baixou em duas unidades, de 2012 a 2015 o
comportamento da taxa social de suicídios foi de crescimento, tendo-se
verificado 14 casos em 2013 com coeficiente de 12,9 por 100 000 habitantes; 13
casos em 2014 com o coeficiente de 11,9 por 100 000 habitantes e 16 casos de
suicídios em 2015 correspondentes ao coeficiente de 14,7 por 100 000
habitantes.
A
média anual de suicídios de 2010 a 2015 no Município de Maxixe é de 13 casos de
suicídios.
2.1. Frequência sócio-biográfica dos suicídios no Municipio de Maxixe
A
seguir iremos apresentar, em tabelas e gráficos e os seus respectivos
comentários, as frequências de suicídios tendo em conta o género, idade, estado
civil e ocupação profissional.
2.1.1.
Frequência de suicídios com base
no género
Tabela nº 04: Dados de Frequência de suicídios
tendo em conta o género
Ano |
2010 |
2011 |
2012 |
2013 |
2014 |
2015 |
Total/ano |
12 |
10 |
11 |
14 |
13 |
16 |
Homens |
8 |
8 |
11 |
12 |
12 |
14 |
Homens (%) |
66,7% |
80% |
100% |
86% |
92,3% |
87,5% |
Mulheres |
4 |
2 |
0 |
2 |
1 |
2 |
Mulheres (%) |
33,3 % |
20% |
0% |
14% |
7,7% |
12,5% |
Fonte: O autor com base nos dados
colhidos no SERNIC
Os
dados das taxas de frequência de suicídios tendo em conta o género, relatam que
geralmente a maioria dos que se suicidam são os homens, tendo-se verificado, em
2010, 8 casos de suicídios de homens (66,7%) e apenas 4 de mulheres (33,7%)num
total de 12 casos de suicídios.Em 2011 houve também 8 casos de suicídios
masculinos (80%), sendo apenas 2casos de suicídios femininos(20%), num universo
de 10 casos de suicídios.Já em 2012 não foi registado nenhum caso de suicídios
femininos (0%), sendo que suicidaram-se 11 pessoas do sexo masculino (100%),
correspondente à totalidade de suicídios verificados. Em 2013 houve 12
suicídios de homens (86%)contra 2 casos de suicídios de mulheres (14%), num
total de 14 suicídios havidos no município da Maxixe.Em 2014 suicidaram-se 12
pessoas do sexo masculino (92,3%) contra suicídio de 1 pessoa do sexo feminino
(7,7%), num total de 13 suicídios registados. E, finalmente, em 2015, houve 14
suicídios de pessoas do sexo masculino (87,5%) e apenas dois suicídios de
pessoas do sexo feminino (12,5%), num total de 16 casos de suicídios.
2.1.2.
Frequência de suicídios tendo em
conta a idade
A
seguinte tabela mostra os dados de frequência de suicídios tendo em conta a
idade (crianças, jovens, adultos e idosos).
Tabela nº 05: Dados de frequência de suicídios
tendo em conta a idade
Ano |
2010 |
2011 |
2012 |
2013 |
2014 |
2015 |
Total/ano |
12 |
10 |
11 |
14 |
13 |
16 |
Crianças [12:17] anos |
2 |
0 |
0 |
2 |
1 |
2 |
Percentagem |
16,7% |
0% |
0% |
14% |
7,7% |
12, %5 |
Jovens [18: 36] anos |
1 |
0 |
0 |
1 |
1 |
3 |
Percentagem |
8,3% |
0% |
0% |
7% |
7,7% |
18,75% |
Adultos [37: 55] anos |
3 |
7 |
8 |
6 |
9 |
7 |
Percentagem |
25% |
70% |
73% |
43% |
69,3% |
43,75% |
Idosos [56: 90 ] anos |
6 |
3 |
3 |
5 |
2 |
4 |
Percentagem |
50% |
30% |
27% |
36% |
15,3% |
25% |
Fonte: O autor com base nos dados do
SERNIC
Os
dados das taxas de frequência de suicídios tendo em conta a idade, referem que,
de todas as faixas etárias, mais suicidam-se pessoas adultas, de seguida vem a
faixa etária de idosos, e por fim encontramos as faixas etárias de crianças e
jovens em equilíbrio. Em 2010, suicidaram-se 2 crianças (16,7%), 1 jovem
(8,3%), 3 pessoas adultas (25%) e 6 idosos (50%). Em 2011, suicidaram-se 7
pessoas adultas (70%) e 3 pessoas idosas (30%). Em 2012, suicidaram-se 8
pessoas adultas (73%) e 3 pessoas idosas (23%). Em 2013 suicidaram-se 2
crianças (14%), 1 jovem (7%), 6 adultos (43%) e 5 pessoas idosas (36%). Já em
2014, 1 criança (7,7%) suicidou-se, 1 jovem (7,7%), 9adultos (69,3%) e 2 idosos
(15,3%) também suicidaram-se. Em 2015, suicidaram-se 2 crianças (12,5%), 3 jovens
(18,75%), 7 adultos (43,75%) e 4 idosos (25%).
2.1.3.
Frequência de suicídios com base
no estado civil
Tabela nº 06: Dados de frequência de suicídios
tendo em conta o estado civil
Ano |
2010 |
2011 |
2012 |
2013 |
2014 |
2015 |
Total/ano |
12 |
10 |
11 |
14 |
13 |
16 |
Casados |
2 |
0 |
1 |
0 |
1 |
2 |
Casados (%) |
17% |
0% |
9,1% |
0% |
8% |
12,5% |
Solteiros |
2 |
5 |
0 |
5 |
7 |
6 |
Solteiros (%) |
17% |
50% |
0% |
36% |
54% |
37,5% |
União de facto |
8 |
5 |
10 |
9 |
5 |
8 |
União de facto (%) |
66% |
50% |
90,9% |
64% |
38% |
50% |
Viúvo/a |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
Viúvo/a |
0% |
0% |
0% |
0% |
0% |
0% |
Fonte: O autor com base nos dados
colhidos no SERNIC
Quanto
aos dados das taxas de frequência relativos ao estado civil, encontramos que
mais suicidam-se pessoas que vivem em união de facto, de seguida os solteiros e
sendo poucos casos de suicídios entre os oficialmente casados e nenhum caso
verificado entre pessoas viúvas de 2010 a 2015.
Em 2010, houve 2 casos de suicídios entre
pessoas oficialmente casadas (17%), 2 casos de suicídios de pessoas solteiras
(17%) e 8 casos de pessoas em união de facto (66%). Em 2011, não houve nenhum
caso de suicídios entre os oficialmente casados (0%), mas sim houve 5 de
pessoas solteiras (50%) e também 5 casos de suicídios de pessoas em união de
facto (50%). Em 2012, matou-se 1 casado (9,1%), porém nenhum solteiro se matou
(0%), tendo-se registado 10 casos de suicídios de pessoas em união de facto
(90,9%). Em 2013, nenhum casado (0%) cometeu suicídio, tendo sido cometido por
5 solteiros (36%) e 9 pessoas em união de facto (64%). Em 2014, cometeram
suicídio 1 pessoa casada (8%), 7 pessoas solteiras (54%) e 5 pessoas em união
de facto (38%). Em fim, em 2015, duas pessoas casadas cometeram suicídio
(12,5%), mais 6 pessoas solteiras (37,5%) e mais 8pessoas em união de facto
(50%). Em todos os anos (2010-2015), não foi registado nenhum caso de suicídios
entre pessoas que vivenciam a viuvez.
2.1.4.
Frequência de suicídios tendo em
conta a ocupação profissional
A
seguinte tabela mostra os dados da frequência de suicídios tendo em conta a
ocupação profissional dos suicidas de 2010 a 2015.
Tabela nº 07: Dados da frequência de suicídios
tendo em conta a profissão
Ano |
2010 |
2011 |
2012 |
2013 |
2014 |
2015 |
Total/ano |
12 |
10 |
11 |
14 |
13 |
16 |
Desempregados |
11 |
10 |
9 |
14 |
12 |
13 |
Desempregados (%) |
92% |
100% |
82% |
100% |
92,3% |
81,25% |
Trabalhadores/funcionários |
1 |
0 |
2 |
0 |
1 |
3 |
Trabalhadores (%) |
8% |
0% |
8% |
0% |
7,7% |
18,75% |
Fonte: O autor com base nos dados
colhidos no Sernic
No
que concerne à ocupação profissional, os dados dos suicídios, revelaram que as
pessoas desempregadas ou que trabalham por conta própria, tem cometido mais
suicídios em relação às pessoas que têm uma ocupação profissional.
Em 2010, 11 suicídios foram cometidos por
pessoas desempregadas (92%) ou que trabalham por conta própria, e somente uma
pessoa com emprego cometeu suicídio (8,0%). Em 2011, 10 pessoas desempregadas
(100%) ou com trabalho por conta própria cometeram suicídios e nenhuma pessoa
empregada (0%) cometeu. Em 2012, foram 9 pessoasdesempregadas (82%) que
cometeram suicídios, sendo que apenas 2 pessoas empregadas (18%) cometeram. Em
2013, somente pessoas desempregadas cometeram suicídios, tendo havido 14 casos
(100%). Em 2014, 12 pessoas desempregadas (92,3%) cometeram suicídios, sendo
que apenas uma pessoa empregada o cometeu (7,7%). Enfim, em 2015, foram
cometidos 13 suicídios por pessoas desempregadas (81,25%) e apenas 3 por
pessoas empregadas (18,75%).
2.2.
Causas imediatas ou pessoais de
suicídios no Municipio de Maxixe
São causas
imediatas aquelas que nos indicam motivos antecedentes dos diferentes
suicídios, ou seja, são os motivos mais próximos que antecedem ou estimulam o
suicídio, por exemplo, desgosto de família, remorso, embriaguez, etc.
(Durkheim, 2000, p. 170).
São causas
imediatas as seguintes: conflitos conjugais, o abandono de idosos, brigas e
doenças. Abaixo ilustra os percentuais o gráfico.
Gráfico nº 07: Dados da frequência de causas
imediatas de suicídios
Fonte: O autor com base nos dados
fornecidos pelo SERNIC
2.2.1.
Causas
sociais
Para Durkheim as causas imediatas
ou pessoais não explicam a taxa social de suicídios e elas não são
independentes, pois dependem de uma situação mais geral, da qual são no máximo
reflexos mais ou menos fiéis (Durkheim, 2000, p. 173). Ou seja, as causas
imediatas dependem dos factores externos, ou mesmo, de causas sociais.
Portanto, como afirma Durkheim:
“[…] as razões dadas ao suicídio ou que o suicida dá a si mesmo
para explicar seu acto são, geralmente, apenas causas aparentes. Além de serem
apenas as repercussões individuais de uma situação geral, elas a exprimem de
maneira muito infiel, pois permanecem as mesmas, ao passo que a situação é
completamente diferente” (Ibid., p. 174).
As causas sociais do suicídio no
município de Maxixe são: o curandeirismo, a superstição e discriminação de
pessoas idosas; as fofocas; o baixo nível do desenvolvimento socioecónomico da
província de Inhambane; e falta de politicas e serviços de aconselhamento
psicológico nas comunidades.
2.3.
Métodos e meios mais usados no
cometimento do suicídio no município
O
método de suicídio é a maneira ou procedimento pelo qual o indivíduo escolhe
matar-se, por exemplo, se prefere afogamento ou enforcamento ou ainda
envenenamento; enquanto que meio de suicídio é o objecto ou qualquer outro
material que a pessoa usa para consumar o acto.
No
Município de Maxixe, o método mais usado de todos para consumar o acto de
suicídio é o enforcamento e o meio é a corda, cerca de 90% de casos. O resto
dos 10% corresponde aos que usam meios como de ingestão de drogas e venenos
(pesticidas e água de bateria). O gráfico abaixo ilustra as percentagens:
Gráfico nº 09: Frequência de meios usados nos suicídios da Maxixe
2.4.
Factores de risco
Os factores de risco de suicídios
no Municipio de Maxixe são: o desemprego, o celibato, a união conjugal antes do
casamento, a velhice, conflitos conjugais, o estigma ao suicídio, o
obscurantismo, a falta de banco de suicídios, o fácil acesso aos meios de
suicídios.
2.5.
Factores de proteção
São factores de proteção ser
oficialmente casado e ter emprego ou ser funcionário do estado.
3.
Avaliação do nível dos níveis de
intervenção das instituições sociopolíticas
De um modo geral, as instituições
não tomam o suicídio como um prolema a ser combatido neste município. Segundo
os munícipes quem intervém no combate aos suicídios são as estruturas do bairro
ou a comunidade local (53%), as confissões religiosas (26.7%), o SERNIC (13,3%)
e os curandeiros (6,7%), mas somente e sempre quando o fenómeno ocorre.
A extinta Universidade Pedagogica
de Maxixe, alem de não ter promovido pesquisas e palestras sobre o fenómeno e
não estar cientificamente preparada para lidar com o mesmo, tem medo de abordar
sobre o fenómeno, pois percebe-o como um fenómeno muito sensível e profundo.
A Direcção Distrital de Saúde da
Maxixe (DSSM) não dispõe de banco de dados de suicídios, mas sim de tentativas
de suicídios por falta de médico legista, além de que o gabinete de atendimento
psicológico está apenas empenhado em fazer acompanhamento psicológico a pessoas
que tenham tentado suicídio e somente no hospital.
O município da Maxixe, em
particular o Departamento de Saneamento e Saúde (DSS), não toma o suicídio como
um prolema sério a ser combatido, pois considera as taxas sociais de suicídios
no Município como “não alarmantes”. Além disso, não tem planos de gestão de
saúde pública mental, pois que a gestão autárquica de saúde pública só passou a
existir a partir de Outubro do ano 2017.
Conclusão
A pesquisa constatou que são os
adultos e idosos que mais se matam, se tomarmos em conta a idade; e são
solteiros e casados em união de facto que têm mais cometido suicídios, se
tomarmos em conta o estado civil; e pessoas desempregadas ou com trabalho por
conta própria que mais se suicidam, se tomarmos em conta a ocupação
profissional.
As causas imediatas mais
frequentes são passionais (traição ou separação) e o abandono e marginalização
dos idosos que contribuem para que estes se suicidem; as causas sociais mais
frequentes são: o baixo nível do desenvolvimento socioeconómico do Município da
Maxixe, o desemprego, as fofocas, a discriminação de idosos e a superstição.
O meio mais usado no cometimento
do acto de matar-se é a forca.
Diante desta problemática social,
os munícipes avaliam negativamente o grau de intervenção política no combate
aos suicídios no município da Maxixe, pois que, de modo geral, as estruturas dos
bairros e as instituições sociopolíticas só intervém quando o fenómeno ocorre e
não promovem projectos que valorizem a vida no sentido de se prevenir suicídios
neste município.
Assim, concluiu-se que o nível de
intervenção politica no cambate aos suicídios no município da Maxixe é mau,
pois este tem sido ignorado como um problema sério pela maioria das
instituições, sobretudo pelo Concelho Municipal da Maxixe.
Sugestões:
·
Sensibilizar-se os médicos tradicionais e curandeiros para a
transmissão de mensagens de esperança aos seus pacientes e a evitarem
adivinhações que acusem os idosos e outras pessoas de feitiçaria.
·
A DDSM deve prestar atenção não só às pessoas que tenham tentado
suicídios mas também aquelas que tenham sofrido o luto da perda, pois que estes
fazem parte do grupo vulnerável.
·
A UniSave, extensão de Maxixe, devia compreender que “a primeira
medida preventiva é a educação: é preciso deixar de ter medo de falar sobre o
assunto, derrubar tabus e compartilhar informações ligadas ao tema” (CVV, s/d.,
s/p.)
·
É preciso promover-se actividades de “abraçar a vida” ou “celebração
da vida” nas comunidades através das diferenças instituições sociopolíticas.
·
É preciso restringir-se e controlar o acesso aos meios usados para
o cometimento de suicídios no município, neste caso, a compra de cordas,
pesticidas e venenos.
·
Por fim, é preciso sensibilizar-se os músicos e artistas moçambicanos
a transmitirem mensagens de esperança e que valorizem a vida e sem conteúdos
suicidas. Por exemplo, é preciso evitar-se e censurar-se músicas como a de Mr.
Bow que canta: Ni ta ti dlhaya, loyi wa
mamana wa nilhupa mina.[4]
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WHO. Preventing suicide: a global impertative.
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_____. World health statistics 2012.Geneva,
WHO Library Cataloguing-in-Publication Data, 2012.
[1] Provem de parassuícidio - acto ou comportamento não
fatal, eventualmente não habitual num dado individuo e com o qual ele não tem
clara intenção de morrer, mas no qual se arrisca a danos em si mesmo (mais ou
menos graves) caso não exista intervenção de outrem (Oliveira et all, 2001:
510).
[2] Vide no Youtube
[3] Cf. Jornal
Verdade. Mais de 100 suicídios registados em Inhambane no ano passado. [online] via www.verdade.co.mz › newsflash ›
51939-mais-de-100… Arquivo capturado em 15 de Novembro de 2017.
[4] Vou me matar, esta senhora esta me
castigando (nossa tradução).
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