quinta-feira, 10 de setembro de 2020

A DIMENSÃO SOCIAL DE SUICÍDIOS E A INTERVENÇÃO POLÍTICA NO MUNICÍPIO DE MAXIXE (2010-2015)


 


RESUMO

O presente ensaio avalia o grau de intervenção das instituições sociopolíticas no combate aos suicídios no Município da Maxixe, partindo da descrição epidemiológica do fenómeno, bem como da análise das estratégias de prevenção adoptadas por essas instituições. Se em 2012, a OMS classificou Moçambique como o país com mais suicidas de África, em 2015, o Jornal Verdade atribui à província de Inhambane com mais suicidas do país do ano 2014, sendo Maxixe um dos municípios problemáticos com uma taxa anual média de 13 suicídios por 100 000 habitantes. Em termos metodológicos, a pesquisa toma como métodos de abordagem, o qualitativo na vertente fenomenológica e o método de amostragem por conveniência. A pesquisa constatou que são os adultos e idosos que mais se matam, se tomarmos em conta a idade; e são os solteiros e casados em união de facto que mais se matam, se tomarmos em conta o estado civil; e pessoas desempregadas ou com trabalho por conta própria que mais se suicidam, se tomarmos em conta a ocupação profissional. As causas imediatas mais frequentes são passionais (conflitos conjugais ou separação) o abandono e a marginalização dos idosos que contribuem para que estes se suicidem; as causas sociais mais frequentes são, o baixo nível de desenvolvimento socioeconómico do Município de Maxixe, o desemprego, as fofocas, a discriminação dos idosos e a superstição; o meio mais usado para a consumação do acto é a forca. Diante disso, os munícipes avaliam negativamente o grau de intervenção política no combate aos suicídios no município, pois as estruturas dos bairros só intervêm quando o fenómeno ocorre e não promovem projectos que valorizem a vida no sentido de se prevenir suicídios neste município. A pesquisa conclui que o nível de intervenção política no combate aos suicídios neste município é mau, pois este tem sido ignorado como um problema sério pela maioria das instituições, sobretudo pelo Concelho Municipal da Maxixe. Diante deste cenário, a OMS (2012; 2014) incentiva os governos de todo o mundo a tomarem a prevenção do suicídio num imperativo global e, dessa forma, a criarem políticas e estratégias de prevenção do fenómeno com base na realidade concreta desses países. Assim, o Município da Maxixe através das suas instituições sociopolíticas, devia dobrar esforços no sentido de combater os suicídios e tomá-los como problema sério a ser combatido tomando em consideração a realidade local.

Palavras-chave: Suicídios; Sociedade; Intervenção política; Município de Maxixe.


 

ABSTRACT

The present essay evaluate the sociopolitical institutions intervention degree in fight against suicides in Maxixe Municipality, departing from epidemiological description of the phenomenon, as well as from the analysis of the strategies of prevention adopted by those institutions. If in 2012, WHO ranked Mozambique as the most suicidal country in Africa, in 2015 “Jornal Verdade” attributed to Inhambane province the degree of the most suicidal province in the country in the 2014 year, being Maxixe one of the most problematic municipalities, with an annual rate about 13 cases in 100 000 inhabitants. In methodological terms, the present research takes as approach methods the qualitative method in phenomenological component and the sample by convenience. The research determined that the adults and elders are who most kill themselves, if we take the age in consideration; and single and people in marital fact situation are who most kill themselves, if we take in consideration the marital state; and unemployed people or people with their own business are who most kill themselves, if we take in consideration the professional occupation. The most frequent immediate causes are passionate (marital conflicts or separation) and the abandon and marginalization of the elders that contribute so that these persons commit suicide. The social causes are the low level of socioeconomic development in MM, the unemployment, gossips, the elders’ discrimination and the predominance of superstition; the most used mean to the act consummation is the noose. In the face of this situation, the residents of Maxixe Municipality evaluate negatively the degree of political intervention to combat suicides in the municipality, because the structures of the districts only intervene when the phenomenon occurs and they don´t promote projects that value life to prevent suicides in this municipality. The research concludes that the degree of political intervention to combat suicide in the municipality is bad, because suicide has been ignored as being a serious problem by the majority of institutions of the municipality, mainly by Maxixe Municipality County. In face of this reality, WHO (2012; 2014) encourage the governments of all over the world to consider suicide prevention a global imperative and, in this way, create policies and strategies to prevent the phenomenon according to the concrete reality of these countries. So the Maxixe Municipality must double efforts in order to fight against suicide through its institutions and consider it as a serious problem that should be fought against taking in consideration the local reality.

Key-words: Suicide; society; political intervention; Maxixe Municipality.

                                                                                          

1.    Da problemática conceptual á problemática epidemiológica do suicídio

Nesta parte do trabalho iremos discutir o conceito do suicídio e os paradoxos que nele podemos encontrar entre os diversos pensadores, diversas manifestações e diversas teorias até desembocarmos ao problema epidemiológico deste fenómeno no mundo.

1.1.       A problemática conceptual do suicídio

O suicídio constitui um problema social e até mesmo filosófico muito sério, porque falar de suicídio implica procurar entender o sentido da vida, se vale a pena ser vivida (Albert Camus). Implica também perceber o estado da sociedade e os factores sociais e outros que influem na vida das pessoas e que as induzem a acabar com as suas vidas.

Para Durkheim, que é um clássico no estudo sociológico do suicídio, o suicídio é um acto voluntário, consciente e intencional, positivo ou negativo, de acabar com a própria vida (Durkheim, 2000: 14).

Durkheim coloca como indício central de suicídio, a consciência que o individuo suicida tem de que o acto que vai cometer causar-lhe-á a morte.

Na mesma linha de pensamento, a OMS (2014:12) define o suicídio como sendo “o acto de deliberadamente matar-se a si próprio”. Porém, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) do Brasil, defende que “independentemente da intenção ou consciência, independentemente dos meios usados, da motivação e da conjuntura em que o fenómeno ocorre, toda a morte autoinfligida é suicídio” (CFP, 2013: 17).

No entanto, torna-se difícil definir o que seja suicídio devido à existência de vários factores do suicídio e devido à existência de vários comportamentos suicidários[1] que se confundem com o suicídio, como são os casos de consumo abusivo de substâncias psicoactivas, a condução de veículos em estado de extrema embriaguez, ou quaisquer outros comportamentos de risco e de automutilação (Idem).

Alvarez, A. na sua Obra “O Deus selvagem”, considera o suicídio um problema muito complexo e, portanto, que nenhuma teoria poderá dar uma explicação cabal e definitiva sobre o mesmo dado que envolve infinitas razões e tão complexas. Entretanto, toda a explicação do suicídio é uma explicação parcial, ou seja, o estudioso explica as razões de um determinado acto de suicídio tal como as entende (Alvarez, 1999, p. 12)

Várias são as teorias que tentam explicar o suicídio, porém nenhuma delas por si só pode explicar cabalmente um fenómeno tão complexo, multideterminado e difícil de investigar como este, como afirmou Alvazez: “o suicídio é um mundo fechado que tem uma lógica própria e irresistível” (Ibid., p. 127).

Segundo a teoria psicanalítica o suicídio pode ser explicado a partir de transtornos de humor (depressão), transtornos mentais e comportamentos decorrentes do uso de substâncias psicoativas (ex. alcoolismo), transtornos de personalidade (ex. comportamento anti-social); esquizofrenia; transtornos de ansiedade.

A teoria psicológica defende que o suicídio está associado à perdas recentes, perdas de figuras parentais na infância, dinâmica familiar conturbada, datas importantes, reacções de aniversário, personalidade com traços significativos de impulsividade, agressividade, humor hábil;

A teoria clínica associa o suicídio à doenças incapacitantes, dor crónica, lesões desfigurantes perenes, deficiência física, epilepsia, trauma medular, neoplasias malignas, HIV/Sida.

A teoria económica - sustenta que as práticas administrativas associadas a outros factores são causas dos suicídios. Para esta teoria, os modelos de gestão ou práticas administrativas modernos são baseados nos avanços tecnológicos, o que diminui a necessidade de mão-de-obra em massa, criando desse modo o desemprego. As pessoas vivem com medo do desemprego na sociedade capitalista, tornando-as dependentes das empresas o que faz aumentar as pressões para que elas se identifiquem e incorporem os seus valores como verdadeiros dogmas. Entretanto, segundo esta teoria, as organizações são prisões psíquicas, e a gestão do afectivo cresce como estratégia de controlo e poder (Bastos, 2010, p. 5).

A teoria sociológica defende que o suicídio está associado aos seguintes factores externos ao individuo: a idade, sexo, extractos económicos extremos, local de residência; ocupação profissional, estatuto social, isolamento social, estado civil, Identidade nacional (migrantes, imigrantes, etc.)

Etimologicamente, o termo suicídio deriva do latim sui – de si – e caedere – matar, que significa morte de si, ou morte autoinfligida e aparece muito tarde em relação ao próprio acto de suicidar-se. Alguns estudiosos acreditam que foi pela primeira vez usado em 1651, mas já se encontrava escrito na obra de Sir Thomas Browne, de título “Religio Medici”. Antes deste termo eram usadas expressões como “self murder” (auto-assassinato) , “self-homicide” (auto-homicídio) , “self-slaughter” (auto-massacre). Estas expressões reflictiam a pretensão cristã de considerar o suicídio como um assassinato (Alvarez, 1999, p. 63; Shikida et al, 2006, p. 4). Outros afirmam que o termo foi usado pela primeira vez por Desfointaines em 1717 para designar o acto deliberado através do qual o indivíduo decide intencionalmente provocar a sua própria morte (Costa, 2013: 16). Torna-se difícil estabelecer um consenso entre os diversos autores.

Pensar no suicídio faz parte da natureza humana e resulta da sua liberdade de escolha, no geral, e da liberdade de escolha do estilo e qualidade de vida que deseja levar, em particular.

Para Martin Heidegger (2005) do “Ser e Tempo” o homem é um ser para morte, porquanto é um ser consciente do seu fim, da sua temporalidade e da sua projecção histórica enquanto um mar de possibilidades que, se não forem realizadas ele manifesta angústia e desespero, fonte de atracção e desejo de morte.

O suicídio geralmente revela o fracasso do individuo na vida, revela o culminar de uma confluência de problemas que tornaram a vida insuportável e absurda (Camus), ou seja, sem sentido.

Assim, o suicídio resulta de um sofrimento interior insuportável que torna o indivíduo desesperado ao ponto de desejar a sua própria morte. Ele é um meio que o individuo suicida usa para se comunicar aos demais, as suas frustrações, tormentos, dores, decepções, desespero e angústia e que não houve ou viu nenhuma outra alternativa de se livrar dos seus pesares senão tirar a sua própria vida (Toro et al, 2013, p.7).

O suicídio aparece como uma única solução de resolução de vários problemas que se encadeiam ao longo da história da vida do individuo, como destacou um estudante suicida, ex aluno meu no filme em que ele documenta previamente a sua própria morte “Mil Problemas, Uma Solução[2]”.

O suicídio geralmente manifesta-se como uma solução aos milhares de problemas que o individuo vem suportando no curso da sua vida. Mas, apesar de ser visto como única solução a uma série de problemas, o suicídio não é geralmente visto como um fim para tudo, mas, pelo contrário, como única alternativa possível para uma determinada situação imediatamente insuportável e aparentemente sem resolução (Cfr. Ferreira, 2008, p. 6).

Dessa forma, o suicídio é um pedido de ajuda de resolução de problemas da pessoa que está a sofrer, e que não visa essencialmente acabar com a sua própria vida, mas sim ter uma vida de qualidade e de acordo com a sua concepção de qualidade de vida.

1.2.       Comportamentos suicidários

Existem vários comportamentos suicidários, ou seja, comportamentos que atentam contra a vida, que são:

Parassuicídio- acto ou comportamento não fatal, eventualmente não habitual num dado indivíduo e com o qual ele não tem clara intenção de morrer, mas no qual se arrisca a danos em si mesmo (mais ou menos graves) caso não exista intervenção de outrem (Oliveira et al, 2001, p. 510; Ferreira, 2008, p.18).

Tentativa de suicídio - a OMS (2014, p. 12) considera tentativa de suicídio ao comportamento suicida não fatal e refere-se ao autoenvenenamento, autoinjúria ou autodanificação que pode ou não ter um resultado fatal.

As tentativas do suicídio diferem do para-suicídio, pois nas tentativas do suicídio o nível de intencionalidade suicida é superior em relação ao para-suicídio (Silva, 2013, p.11). O parassuicídio relaciona-se aos comportamentos de risco.

Em cada morte de um adulto por suicídio há mais de 20 tentativas de suicídio (OMS, 2014, p. 9).

As tentativas de suicídio são mais comuns entre jovens e no sexo feminino, enquanto que os suicídios são mais frequentes no sexo masculino e nos idosos, por exemplo, ingestão excessiva de substâncias psicoactivas (Idem);

Ideação suicida - é alimentação persistente da ideia de se matar, mas que nunca seja a ser realizada. É pensar constantemente em acabar com a própria vida e não consumar o acto.

Existem vários tipos de suicídio, determinados de acordo com a área de pesquisa de quem os classifica, aqui iremos apresentar apenas os tipos de suicídio na perspectiva sociológica (que é a nossa área de interesse), de acordo com o clássico do estudo sociológico do suicídio, Émile Durkheim.

Em Durkheim (2000) há três tipos de suicídios: (1) O suicídio egoísta, que resulta da existência de pouca integração social ou pouco desenvolvimento de laços sociais dos indivíduos na sociedade; (2) suicídio altruísta, que resulta da extrema integração social do individuo na sociedade ao ponto de perder a sua identidade como pessoa e acredita que sua morte pode ser um benefício para a sociedade; e o (3) suicídio anómico, que resulta da fraca regulação da sociedade, ou seja, quando as normas da sociedade não correspondem aos objectivos de vida do individuo.

1.3.        Ideias sobre o suicídio ao longo da história

Ao longo da história, o suicídio foi conotado de diversas formas, ora como um acto corajoso, ora como pecado, ora como crime, ora como um mal, ora como patologia e loucura (Cfr. Pedro, s/d.: 2).

Na Grécia antiga, os gregos só se suicidavam pelas melhores razões possíveis: por pesar, por princípios patrióticos ou para evitar a desonra. Ou seja, os gregos toleravam o suicídio e até o louvavam, desde que a pessoa apresentasse à justiça razões suficientes para consumar o acto (Cfr. Alvarez, 1999, p. 61, Durkheim, 2000).

Já os romanos, não viam o suicídio com medo nem com repulsa, mas com dignidade e segundo os princípios que haviam escolhido para orientar as suas vidas. Para eles, “viver de forma nobre também significava morrer de forma nobre e no momento certo” (Alvarez, 199, p. 75).

Os romanos somente puniam o suicídio se fosse feito sem motivos justos porque o consideravam irracional e não crime, ou seja, na lei romana o suicídio era um crime estritamente económico e não uma ofensa nem violação da moral nem violação da norma religiosa, mas apenas contra os investimentos de capital da classe proprietária de escravos ou do tesouro do Estado (Ibid., p. 75-76).

Portanto, a Europa pagã, isto é, antes da introdução do cristianismo, tolerava o suicídio, porém quando se introduz o monoteísmo cristão há certa intolerância religiosa e também do suicídio, considerando-o um crime capital baseando-se nas ideias duma das leis do Pentateuco “não matarás” e do reforço que Santo Agostinho faz sobre essa lei (Ibid., p. 65).

Segundo Agostinho de Hipona o suicídio é “homicídio de si”. Para o santo, quem tira a sua própria vida é homicida e a culpa pela sua morte é mais grave quanto mais inocente terá sido a causa da morte (Agostinho, 2006; p. 149).

Toda a Idade Média condenou o suicídio até que, com a Revolução Francesa, que pregava como valores essenciais, a liberdade, a igualdade e a solidariedade, foram abolidas as medidas e leis condenatórias contra o acto de matar-se.

Actualmente o suicídio é socialmente (não necessariamente do ponto de vista legal) condenado pela maioria das sociedades, em particular, e aquele que é usado como método para a prática do terrorismo por quase todas as sociedades, no geral (Shikida et al, 2006 p. 5).

1.4.       A dimensão social de suicídios

Segundo Durkheim (2000), identificar as causas individuais de suicídios contribui para compreender as motivações pessoais que levaram o indivíduo a se matar, porém não contribuem pra explicar as variações regionais da taxa social de suicídios. Entretanto, em Durkheim o suicídio é um fenómeno social e cada sociedade tem certa predisposição para certa taxa social de suicídios, baseada no nível de integração social dos indivíduos. Quanto mais profunda for a integração social, menor será a probabilidade de que os indivíduos venham suicidar-se e quanto menos profunda a integração social, maior será a probabilidade de que os indivíduos se suicidem.

De acordo com Netto (2007) os suicídios são determinados pela sociedade em que acontecem; sendo, na esteira de Berger e Luckman (2004), uma construção social da realidade, vinculada ao contexto histórico-social dessa mesma realidade. As circunstâncias do ambiente físico, socioeconómico e cultural no qual as pessoas nascem, vivem, trabalham e envelhecem influenciam, positiva ou negativamente, a saúde pública mental (Loureiro, 2018; p. 4)

Entretanto, as causas sociais têm primazia em relação as causas psicopatológicas, pois que, segundo Adam e Herzlich (2001), as doenças têm um carácter histórico, pois resultam da realidade histórico-social em que aparecem, ou seja, "de complexas interacções entre processos orgânicos e factores sociais" (Ibid. p. 11). Por exemplo, a depressão é conhecida como “a doença da modernidade” porque, segundo Simmel (2005), a sociedade moderna capitalista caracteriza-se pelo distanciamento e pelo anonimato, o que cria problemas psíquicos e aumenta o índice de transtornos mentais. Entretanto, o social relaciona-se directamente com o psíquico, na medida em que a realidade social cria e intensifica os problemas psíquicos (Pedro, s/d.: 7).

Dessa forma, na investigação sobre as causas dos suicídios, as ciências sociais e ciências do comportamento, devem considerar o papel da sociedade, avaliando os seus aspectos socioeconómicos e culturais (Pedro, s/d.: 1)

Portanto, “a classificação das diferentes causas do suicídio deveria ser a classificação dos próprios defeitos da nossa sociedade” (Da Silva, 2012, p. 4).

Uma taxa social elevada de suicídios denuncia o mal-estar da sociedade em que se verifica, por isso que o suicídio é um fenómeno social que deve ser tomado a sério no sentido de se prevenir.

1.5.       A problemática epidemiológica do suicídio

O suicídio é umas das principais causas de morte no mundo e um problema discutido por diversos autores e organizações internacionais de saúde que lutam pela melhoria da saúde pública. Embora seja prevenível, o suicídio mata em cada 40 segundos uma pessoa algures no mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é a segunda maior causa de mortes no mundo sendo a maioria dos que se matam jovens entre os 15 a 29 anos de idade (OMS, 2014: 6).

Os dados estatísticos de 2012 da mesma organização, estimam a ocorrência de mais 804 000 casos de suicídios no mundo, perfazendo uma a taxa anual de 11.4 por 100 000 habitantes. Entretanto, estes dados não são exactos dado que muitos casos de suicídio não são reportados pelo facto de o mesmo ser ilegal nalguns estados e pela prevalência do estigma ao suicídio (OMS, 2014: 10).

Avimar Ferreira Júnior no artigo intitulado “Comportamento suicida no Brasil e no mundo”, baseando-se nos dados da OMS (2012), apresenta Moçambique como um dos países do mundo que apresenta maior índice de suicídios, e o país africano que apresenta a mais elevada taxa de suicídios, tendo-se registado uma taxa de 27,4 mortes voluntárias por cada 100 mil habitantes (Júnior, 2015: 2).

Por ser um problema sério que afecta a nossa vida social, económica e psicológica, achamos pertinente fazer um estudo de avaliação do esforço do governo municipal da

Maxixe através das instituições sociopolíticas da urbe na prevenção do fenómeno. A preocupação principal do estudo é a de avaliar as estratégias e o grau de intervenção política que o município vem implementando através das instituições sociopolíticas para a minimização do fenómeno.

A delimitação do tempo de estudo, partindo de 2010, explica-se pelo facto de neste ano ter-se introduzido no país um novo governo, resultado das eleições de 28 de Outubro de 2009, nas quais para além de se ter votado no Presidente da República e os deputados da Assembleia da República, pela primeira vez foram votados deputados para as Assembleias Provinciais, facto importante para perceber a relação entre a dimensão social de suicídios e intervenção política por parte do novo governo, no geral, e do governos municipais, em particular. Ademais, dois anos depois da formação do novo governo em Moçambique, em 2012, começa-se a se preocupar com as mortes por suicídio, devido ao facto de se ter constatado uma explosão deste fenómeno e, por ter sido neste ano em que a OMS avaliou Moçambique como um dos países que apresentam maior índice de suicídios em África, tendo-se verificado no mesmo ano, só na Universidade Pedagógica de Maxixe, então Universidade Pedagógica Sagrada Família e, actualmente, UniSave extensão de Maxixe, onde exercemos a função de docente, cerca de 3 (três) casos de morte por suicídio entre os estudantes.

A delimitação do tempo limite de estudo, ano 2015, explica-se, por um lado, por ser o ano em que houve mudança de governo, fruto do fim do mandato do governo sob a liderança do antigo Presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza, cuja governação do país no seu segundo mandato (2009-2014) constitui o objecto de estudo neste projecto; por outro lado, foi em 2014 (ano do término do segundo mandato do governo do presidente Guebuza) que se verificou o maior índice de mortes por suicídio na província de Inhambane, tendo-se registado mais de 100 casos. 

Além de tudo isto, foi em 2014 que a OMS se esforçou em traçar estratégias para a prevenção do suicídio junto com os governos nacionais, tendo lançado o seu primeiro relatório de prevenção de suicídios, fruto de uma ampla pesquisa sobre o tema para subsidiar a construção de políticas de prevenção do fenómeno.

A delimitação do campo de estudo, Município de Maxixe, deve-se ao facto de ser uma das localidades da província de Inhambane que apresenta taxas elevadas de suicídios[3] com uma taxa anual de morte por suicídios correspondente a 13 óbitos por 100 000 habitantes, segundo os dados fornecidos pelo SERNIC em paralelo com os municípios de Inhambane e Massinga. Também, explica-se por ser neste município que, na qualidade de residente e docente universitário, venho vivenciando e acompanhando relatórios de suicídios entre parentes, amigos, alunos e vizinhos.

 

2.       DESCRIÇÃO DAS TAXAS SOCIAIS DE SUICÍDIOSNO MUNICÍPIO DE MAXIXE

 

Tabela nº 01: Taxas sociais anuais de suicídios por 108 824 habitantes (2010-2015)

Ano

2010

2011

2012

2013

2014

2015

Suicídio/total de habitantes

12

10

11

14

13

16

Coeficiente/100 000 habitantes

11,02

9,2

10,1

12,9

11,9

14,7

Fonte: O autor com base nos dados colhidos no SERNIC

 

Em 2010, a taxa social de suicídios foi de 12 casos registados no município, que corresponde ao coeficiente de 11,02 por 100 000 habitantes, tendo vindo a decrescer em duas unidades em 2011 (10 casos de suicídios com o coeficiente de 9,2 por 100 000 habitantes) e decresceu em uma unidade em 2012 (11 casos de suicídios correspondente ao coeficiente de 10,1 por 100 000 habitantes). Ou seja, se de 2010 a 2011, a taxa baixou em duas unidades, de 2012 a 2015 o comportamento da taxa social de suicídios foi de crescimento, tendo-se verificado 14 casos em 2013 com coeficiente de 12,9 por 100 000 habitantes; 13 casos em 2014 com o coeficiente de 11,9 por 100 000 habitantes e 16 casos de suicídios em 2015 correspondentes ao coeficiente de 14,7 por 100 000 habitantes.

A média anual de suicídios de 2010 a 2015 no Município de Maxixe é de 13 casos de suicídios.

 

2.1.       Frequência sócio-biográfica dos suicídios no Municipio de Maxixe

 

A seguir iremos apresentar, em tabelas e gráficos e os seus respectivos comentários, as frequências de suicídios tendo em conta o género, idade, estado civil e ocupação profissional.

 

2.1.1.   Frequência de suicídios com base no género

 

Tabela nº 04: Dados de Frequência de suicídios tendo em conta o género

Ano

2010

2011

2012

2013

2014

2015

Total/ano

12

10

11

14

13

16

Homens

8

8

11

12

12

14

Homens (%)

66,7%

80%

100%

86%

92,3%

87,5%

Mulheres

4

2

0

2

1

2

Mulheres (%)

33,3 %

20%

0%

14%

7,7%

12,5%

Fonte: O autor com base nos dados colhidos no SERNIC

 

Os dados das taxas de frequência de suicídios tendo em conta o género, relatam que geralmente a maioria dos que se suicidam são os homens, tendo-se verificado, em 2010, 8 casos de suicídios de homens (66,7%) e apenas 4 de mulheres (33,7%)num total de 12 casos de suicídios.Em 2011 houve também 8 casos de suicídios masculinos (80%), sendo apenas 2casos de suicídios femininos(20%), num universo de 10 casos de suicídios.Já em 2012 não foi registado nenhum caso de suicídios femininos (0%), sendo que suicidaram-se 11 pessoas do sexo masculino (100%), correspondente à totalidade de suicídios verificados. Em 2013 houve 12 suicídios de homens (86%)contra 2 casos de suicídios de mulheres (14%), num total de 14 suicídios havidos no município da Maxixe.Em 2014 suicidaram-se 12 pessoas do sexo masculino (92,3%) contra suicídio de 1 pessoa do sexo feminino (7,7%), num total de 13 suicídios registados. E, finalmente, em 2015, houve 14 suicídios de pessoas do sexo masculino (87,5%) e apenas dois suicídios de pessoas do sexo feminino (12,5%), num total de 16 casos de suicídios.

 

 

2.1.2.   Frequência de suicídios tendo em conta a idade

A seguinte tabela mostra os dados de frequência de suicídios tendo em conta a idade (crianças, jovens, adultos e idosos).

 

Tabela nº 05: Dados de frequência de suicídios tendo em conta a idade

Ano

2010

2011

2012

2013

2014

2015

Total/ano

12

10

11

14

13

16

Crianças [12:17] anos

2

0

0

2

1

2

Percentagem

16,7%

0%

0%

14%

7,7%

12, %5

Jovens [18: 36] anos

1

0

0

1

1

3

Percentagem

8,3%

0%

0%

7%

7,7%

18,75%

Adultos [37: 55] anos

3

7

8

6

9

7

Percentagem

25%

70%

73%

43%

69,3%

43,75%

Idosos [56: 90 ] anos

6

3

3

5

2

4

Percentagem

50%

30%

27%

36%

15,3%

25%

Fonte: O autor com base nos dados do SERNIC

 

Os dados das taxas de frequência de suicídios tendo em conta a idade, referem que, de todas as faixas etárias, mais suicidam-se pessoas adultas, de seguida vem a faixa etária de idosos, e por fim encontramos as faixas etárias de crianças e jovens em equilíbrio. Em 2010, suicidaram-se 2 crianças (16,7%), 1 jovem (8,3%), 3 pessoas adultas (25%) e 6 idosos (50%). Em 2011, suicidaram-se 7 pessoas adultas (70%) e 3 pessoas idosas (30%). Em 2012, suicidaram-se 8 pessoas adultas (73%) e 3 pessoas idosas (23%). Em 2013 suicidaram-se 2 crianças (14%), 1 jovem (7%), 6 adultos (43%) e 5 pessoas idosas (36%). Já em 2014, 1 criança (7,7%) suicidou-se, 1 jovem (7,7%), 9adultos (69,3%) e 2 idosos (15,3%) também suicidaram-se. Em 2015, suicidaram-se 2 crianças (12,5%), 3 jovens (18,75%), 7 adultos (43,75%) e 4 idosos (25%).

 

2.1.3.   Frequência de suicídios com base no estado civil

 

Tabela nº 06: Dados de frequência de suicídios tendo em conta o estado civil

Ano

2010

2011

2012

2013

2014

2015

Total/ano

12

10

11

14

13

16

Casados

2

0

1

0

1

2

Casados (%)

17%

0%

9,1%

0%

8%

12,5%

Solteiros

2

5

0

5

7

6

Solteiros (%)

17%

50%

0%

36%

54%

37,5%

União de facto

8

5

10

9

5

8

União de facto (%)

66%

50%

90,9%

64%

38%

50%

Viúvo/a

0

0

0

0

0

0

Viúvo/a

0%

0%

0%

0%

0%

0%

Fonte: O autor com base nos dados colhidos no SERNIC

                                                                                                            

Quanto aos dados das taxas de frequência relativos ao estado civil, encontramos que mais suicidam-se pessoas que vivem em união de facto, de seguida os solteiros e sendo poucos casos de suicídios entre os oficialmente casados e nenhum caso verificado entre pessoas viúvas de 2010 a 2015.

 Em 2010, houve 2 casos de suicídios entre pessoas oficialmente casadas (17%), 2 casos de suicídios de pessoas solteiras (17%) e 8 casos de pessoas em união de facto (66%). Em 2011, não houve nenhum caso de suicídios entre os oficialmente casados (0%), mas sim houve 5 de pessoas solteiras (50%) e também 5 casos de suicídios de pessoas em união de facto (50%). Em 2012, matou-se 1 casado (9,1%), porém nenhum solteiro se matou (0%), tendo-se registado 10 casos de suicídios de pessoas em união de facto (90,9%). Em 2013, nenhum casado (0%) cometeu suicídio, tendo sido cometido por 5 solteiros (36%) e 9 pessoas em união de facto (64%). Em 2014, cometeram suicídio 1 pessoa casada (8%), 7 pessoas solteiras (54%) e 5 pessoas em união de facto (38%). Em fim, em 2015, duas pessoas casadas cometeram suicídio (12,5%), mais 6 pessoas solteiras (37,5%) e mais 8pessoas em união de facto (50%). Em todos os anos (2010-2015), não foi registado nenhum caso de suicídios entre pessoas que vivenciam a viuvez.

 

2.1.4.   Frequência de suicídios tendo em conta a ocupação profissional

 

A seguinte tabela mostra os dados da frequência de suicídios tendo em conta a ocupação profissional dos suicidas de 2010 a 2015.

 

Tabela nº 07: Dados da frequência de suicídios tendo em conta a profissão

Ano

2010

2011

2012

2013

2014

2015

Total/ano

12

10

11

14

13

16

Desempregados

11

10

9

14

12

13

Desempregados (%)

92%

100%

82%

100%

92,3%

81,25%

Trabalhadores/funcionários

1

0

2

0

1

3

Trabalhadores (%)

8%

0%

8%

0%

7,7%

18,75%

Fonte: O autor com base nos dados colhidos no Sernic

 

No que concerne à ocupação profissional, os dados dos suicídios, revelaram que as pessoas desempregadas ou que trabalham por conta própria, tem cometido mais suicídios em relação às pessoas que têm uma ocupação profissional.

 Em 2010, 11 suicídios foram cometidos por pessoas desempregadas (92%) ou que trabalham por conta própria, e somente uma pessoa com emprego cometeu suicídio (8,0%). Em 2011, 10 pessoas desempregadas (100%) ou com trabalho por conta própria cometeram suicídios e nenhuma pessoa empregada (0%) cometeu. Em 2012, foram 9 pessoasdesempregadas (82%) que cometeram suicídios, sendo que apenas 2 pessoas empregadas (18%) cometeram. Em 2013, somente pessoas desempregadas cometeram suicídios, tendo havido 14 casos (100%). Em 2014, 12 pessoas desempregadas (92,3%) cometeram suicídios, sendo que apenas uma pessoa empregada o cometeu (7,7%). Enfim, em 2015, foram cometidos 13 suicídios por pessoas desempregadas (81,25%) e apenas 3 por pessoas empregadas (18,75%).

 

 

2.2.       Causas imediatas ou pessoais de suicídios no Municipio de Maxixe

 

São causas imediatas aquelas que nos indicam motivos antecedentes dos diferentes suicídios, ou seja, são os motivos mais próximos que antecedem ou estimulam o suicídio, por exemplo, desgosto de família, remorso, embriaguez, etc. (Durkheim, 2000, p. 170).

São causas imediatas as seguintes: conflitos conjugais, o abandono de idosos, brigas e doenças. Abaixo ilustra os percentuais o gráfico.

 

Gráfico nº 07: Dados da frequência de causas imediatas de suicídios

Fonte: O autor com base nos dados fornecidos pelo SERNIC

 

2.2.1.   Causas sociais

Para Durkheim as causas imediatas ou pessoais não explicam a taxa social de suicídios e elas não são independentes, pois dependem de uma situação mais geral, da qual são no máximo reflexos mais ou menos fiéis (Durkheim, 2000, p. 173). Ou seja, as causas imediatas dependem dos factores externos, ou mesmo, de causas sociais. Portanto, como afirma Durkheim:

 

“[…] as razões dadas ao suicídio ou que o suicida dá a si mesmo para explicar seu acto são, geralmente, apenas causas aparentes. Além de serem apenas as repercussões individuais de uma situação geral, elas a exprimem de maneira muito infiel, pois permanecem as mesmas, ao passo que a situação é completamente diferente” (Ibid., p. 174).

 

As causas sociais do suicídio no município de Maxixe são: o curandeirismo, a superstição e discriminação de pessoas idosas; as fofocas; o baixo nível do desenvolvimento socioecónomico da província de Inhambane; e falta de politicas e serviços de aconselhamento psicológico nas comunidades.

2.3.       Métodos e meios mais usados no cometimento do suicídio no município

O método de suicídio é a maneira ou procedimento pelo qual o indivíduo escolhe matar-se, por exemplo, se prefere afogamento ou enforcamento ou ainda envenenamento; enquanto que meio de suicídio é o objecto ou qualquer outro material que a pessoa usa para consumar o acto.

No Município de Maxixe, o método mais usado de todos para consumar o acto de suicídio é o enforcamento e o meio é a corda, cerca de 90% de casos. O resto dos 10% corresponde aos que usam meios como de ingestão de drogas e venenos (pesticidas e água de bateria). O gráfico abaixo ilustra as percentagens:

 

Gráfico nº 09: Frequência de meios usados nos suicídios da Maxixe

 

2.4.       Factores de risco

Os factores de risco de suicídios no Municipio de Maxixe são: o desemprego, o celibato, a união conjugal antes do casamento, a velhice, conflitos conjugais, o estigma ao suicídio, o obscurantismo, a falta de banco de suicídios, o fácil acesso aos meios de suicídios.

 

2.5.       Factores de proteção

São factores de proteção ser oficialmente casado e ter emprego ou ser funcionário do estado.

3.    Avaliação do nível dos níveis de intervenção das instituições sociopolíticas

De um modo geral, as instituições não tomam o suicídio como um prolema a ser combatido neste município. Segundo os munícipes quem intervém no combate aos suicídios são as estruturas do bairro ou a comunidade local (53%), as confissões religiosas (26.7%), o SERNIC (13,3%) e os curandeiros (6,7%), mas somente e sempre quando o fenómeno ocorre.

A extinta Universidade Pedagogica de Maxixe, alem de não ter promovido pesquisas e palestras sobre o fenómeno e não estar cientificamente preparada para lidar com o mesmo, tem medo de abordar sobre o fenómeno, pois percebe-o como um fenómeno muito sensível e profundo.

A Direcção Distrital de Saúde da Maxixe (DSSM) não dispõe de banco de dados de suicídios, mas sim de tentativas de suicídios por falta de médico legista, além de que o gabinete de atendimento psicológico está apenas empenhado em fazer acompanhamento psicológico a pessoas que tenham tentado suicídio e somente no hospital.

O município da Maxixe, em particular o Departamento de Saneamento e Saúde (DSS), não toma o suicídio como um prolema sério a ser combatido, pois considera as taxas sociais de suicídios no Município como “não alarmantes”. Além disso, não tem planos de gestão de saúde pública mental, pois que a gestão autárquica de saúde pública só passou a existir a partir de Outubro do ano 2017.

 

 

Conclusão

A pesquisa constatou que são os adultos e idosos que mais se matam, se tomarmos em conta a idade; e são solteiros e casados em união de facto que têm mais cometido suicídios, se tomarmos em conta o estado civil; e pessoas desempregadas ou com trabalho por conta própria que mais se suicidam, se tomarmos em conta a ocupação profissional.

As causas imediatas mais frequentes são passionais (traição ou separação) e o abandono e marginalização dos idosos que contribuem para que estes se suicidem; as causas sociais mais frequentes são: o baixo nível do desenvolvimento socioeconómico do Município da Maxixe, o desemprego, as fofocas, a discriminação de idosos e a superstição.

O meio mais usado no cometimento do acto de matar-se é a forca.

Diante desta problemática social, os munícipes avaliam negativamente o grau de intervenção política no combate aos suicídios no município da Maxixe, pois que, de modo geral, as estruturas dos bairros e as instituições sociopolíticas só intervém quando o fenómeno ocorre e não promovem projectos que valorizem a vida no sentido de se prevenir suicídios neste município.

Assim, concluiu-se que o nível de intervenção politica no cambate aos suicídios no município da Maxixe é mau, pois este tem sido ignorado como um problema sério pela maioria das instituições, sobretudo pelo Concelho Municipal da Maxixe.

Sugestões:

·         Sensibilizar-se os médicos tradicionais e curandeiros para a transmissão de mensagens de esperança aos seus pacientes e a evitarem adivinhações que acusem os idosos e outras pessoas de feitiçaria.

·         A DDSM deve prestar atenção não só às pessoas que tenham tentado suicídios mas também aquelas que tenham sofrido o luto da perda, pois que estes fazem parte do grupo vulnerável.

·         A UniSave, extensão de Maxixe, devia compreender que “a primeira medida preventiva é a educação: é preciso deixar de ter medo de falar sobre o assunto, derrubar tabus e compartilhar informações ligadas ao tema” (CVV, s/d., s/p.)

·         É preciso promover-se actividades de “abraçar a vida” ou “celebração da vida” nas comunidades através das diferenças instituições sociopolíticas.

·         É preciso restringir-se e controlar o acesso aos meios usados para o cometimento de suicídios no município, neste caso, a compra de cordas, pesticidas e venenos.

·         Por fim, é preciso sensibilizar-se os músicos e artistas moçambicanos a transmitirem mensagens de esperança e que valorizem a vida e sem conteúdos suicidas. Por exemplo, é preciso evitar-se e censurar-se músicas como a de Mr. Bow que canta: Ni ta ti dlhaya, loyi wa mamana wa nilhupa mina.[4]

 

Bibliografia

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NETTO, Berenchtein. Suicídio. Uma análise psicossocial a partir do materialismo dialéctico (Dissertação de Mestrado). Pontifícia Universidade Católica. São Paulo, 2007.

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WHO. Preventing suicide: a global impertative. Geneva, World Health Organization, 2014.

_____. World health statistics 2012.Geneva, WHO Library Cataloguing-in-Publication Data, 2012.

 



[1] Provem de parassuícidio - acto ou comportamento não fatal, eventualmente não habitual num dado individuo e com o qual ele não tem clara intenção de morrer, mas no qual se arrisca a danos em si mesmo (mais ou menos graves) caso não exista intervenção de outrem (Oliveira et all, 2001: 510).

[2] Vide no Youtube

[3] Cf. Jornal Verdade. Mais de 100 suicídios registados em Inhambane no ano passado. [online] via www.verdade.co.mz › newsflash › 51939-mais-de-100… Arquivo capturado em 15 de Novembro de 2017.

 

[4] Vou me matar, esta senhora esta me castigando (nossa tradução).